O agro não é pop, a mineração não traz prosperidade. Eles nos matam lentamente, a não ser quando a Vale resolve assassinar imediatamente as pessoas com o rompimento de barragens. Vimos o crescimento do uso de agrotóxicos nos últimos anos pautados pelo último governo fascista e golpista. Não bastasse comer diariamente alimentos com veneno, agora até na água nos matam. Duas pesquisas mostram dados preocupantes sobre a contaminação da água que bebemos por causa da mineração e dos agrotóxicos. Neste dia mundial da água (22/03) não temos muito o que comemorar.
De acordo com os dados do Painel do Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano, do Ministério da Saúde, cerca de 90 cidades do sul mineiro detectaram pelo menos um agrotóxico nas redes de abastecimento de água. Para piorar, 40 cidades, quase metade, encontraram 11 tipos de agrotóxicos.
Calma que ainda piora mais. O mesmo estudo mostra que oito cidades da região tiveram 27 tipos de agrotóxicos diferentes na água consumida. Dados do estudo do Ministério da Saúde mostram que 1.609 municípios brasileiros, seis em cada dez fizeram teste, e encontraram ao menos um tipo de agrotóxico em sua água.
Não paramos por aí. Minas Gerais possui a água mais contaminada do país. Temos dez cidades que foram consideradas com índices acima do permitido pelo Ministério da Saúde.
A substância mais encontrada neste estudo foi o endrin. Ela é proibida no Brasil por afetar o sistema nervoso, causando tremores e convulsões. Sim, o agro está nos matando.
Não queremos assustar ninguém, contamos com o seu apoio para lutarmos contra isso. Eles são fortes e vendem um discurso de prosperidade. Temos sim que enfrentar o agro e a mineração. Não podemos ficar sentados morrendo lentamente, enquanto essas empresas se enriquecem.
Temos que discutir imediatamente sobre o nível permitido de agrotóxicos na água que bebemos. Também devemos pensar legislações que punem as empresas que contaminam a água. Muitos debates e ações são necessárias nesse momento.
Mineração
Nos últimos anos, a mineração ganhou o protagonismo como a maior assassina do país. A Vale enterrou vivas mais de 300 pessoas. Fora as que estão altamente doentes por causa do impacto dos rompimentos das barragens, do medo constante de rompimento de uma barragem e agora pela contaminação da água.
A mineração pode contaminar a nossa água de três formas diferentes. Sim, a atividade deles é altamente danosa para os nossos recursos hídricos. Além de gastarem muita água, durante o beneficiamento do minério se produz uma água altamente concentrada de metais pesados e que fazem mal à saúde. Durante a etapa de extração do minério, pode ocorrer o rebaixamento do lençol freático, assim afetando o fluxo de água dos rios. Por fim, os rejeitos produzidos podem ser escoados e contaminar rios e bacias, assim como aconteceu no rompimento da Barragem do Fundão em Mariana, os quais acabaram com toda a bacia do Rio Doce.
A contaminação da água causada pela mineração está entre os mais graves causados para os territórios explorados. A água faz parte da rotina das comunidades ribeirinhas, dos pescadores, que veem a sua principal fonte de proteína contaminada.
Por fim, não podíamos deixar de falar do crime que a Samarco, a Vale e a BHP causaram na bacia do Rio Doce após despejar milhões de toneladas de lama ao longo de 650 quilômetros. De longe, é o pior desastre ambiental do país.
Em 2019, a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) analisou o solo, a água e o leite de diversos municípios atingidos pelo crime da Samarco e os dados são extremamente preocupantes. Os níveis de chumbo, arsênio, cromo, níquel, ferro e manganês estão 32 mil vezes maior na água e 17 vezes maior no solo do que o permitido por lei.
O “Projeto Juntos para Servir” tem como foco o cuidado com a mãe terra. Vamos até o fim para lutar por uma alimentação saudável, uma água sem veneno, pela agricultura familiar, pela reforma agrária e muito mais. Que em alguns anos possamos vir aqui contar os avanços que tivemos na proteção da nossa água. Por exemplo, somos co autores da PEC 258/2016, que dá nova redação ao art. 6º da Constituição Federal, para introduzir o direito humano ao acesso à terra e à água como direito fundamental. Também que seja garantido que água não é mercadoria e não pode ser privatizada as empresas públicas de água.
E vamos lutar também para que o nosso projeto de lei 3715/2020 seja aprovado e se transforme em uma política pública. Ele cria o Programa Barraginhas e outras ecotécnicas para recuperação e perenização de nascentes e cursos d’água. É uma técnica simples, barata e de grande eficiência. O que são as barraginhas? São pequenas escavações ou bacias de contenção que captam as águas das chuvas e retêm as enxurradas, fazendo com que a água se infiltre no solo, reabastecendo o lençol freático, perenizando nascentes e cursos d´água. A técnica evita enchentes, alagamentos e destruição nos centros urbanos. Esta é uma tarefa de todos nós. Cuidar da água. Plantar água.
*Padre João é deputado federal (PT-MG); Leleco Pimentel é deputado estadual (PT-MG)
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum