REFLEXÃO

Educação e Democracia: Pistas para construção de políticas educacionais - Por Thiago Risso

Educar é ato de amor e de afeto e pressupõe movimento. Mas também é resistência e luta

Imagem Ilustrativa.Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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No mundo em constante transformação, a educação emerge como o alicerce fundamental para o desenvolvimento humano e social. No entanto, em diversos casos, as políticas educacionais muitas vezes sucumbem a decisões arbitrárias, de curto prazo e sem uma escuta real dos profissionais. Nem sempre se pratica o diálogo necessário entre gestão e unidades escolares.

A adoção de políticas de longo prazo não é apenas uma sugestão bem-intencionada: é uma necessidade para garantir a aprendizagem e o desenvolvimento de nossas crianças, adolescentes e adultos nas escolas públicas.

A educação precisa se desenvolver como política de Estado, democrática, crítica e sintonizada com a realidade dos educandos e dos educadores.

Não raramente, as gestões da educação acabam sendo conduzidas por aventureiros políticos. Não são aventureiros apenas pelo fato de não serem profissionais oriundos da área pedagógica, mas por serem lideranças que não se comprometem a conhecer verdadeiramente as vicissitudes da área, além de não privilegiarem a escuta das escolas e dos especialistas do campo, antes de tomarem decisões ou implementarem projetos que pretendem, um após o outro, salvar a educação ou promover milagres pedagógicos, mas que só acabam por aprofundar os problemas que assolam as escolas.

Para que seja eficaz, a solução dos problemas de uma escola deve se originar nos encaminhamentos, ações e propostas que nascem no seu próprio cotidiano ou em diálogo real com quem faz parte dele.

Assim, em vez de gastar recursos tentando pensar propostas mirabolantes, as gestões centrais deveriam se dedicar a garantir a estrutura de pessoal, equipamentos e materiais de que as escolas precisam para funcionar.

Também é preciso elaborar políticas públicas consistentes, de longo prazo e sustentáveis, blindando-as das rupturas constantes, para encaminhar situações do contexto social mais amplo, que não podem ser resolvidas pela escola e que a afetam em seu fazer cotidiano - a isso chamamos Política de Estado.

Em vez disso, algumas gestões dos sistemas de ensino, com frequência, se atrapalham, confundem seus afazeres com a execução de projetos e ações perenes, promovendo desarticulações e descontinuidades em aspectos que acabam por atrapalhar o funcionamento das unidades de educação - o que tratamos aqui como Políticas de Governo.

A título de exemplo, a rotatividade incessante de profissionais nas escolas, resultante de decisões autoritárias e desprovidas de embasamento pedagógico, representa um golpe mortal para a construção do senso de pertencimento e o desenvolvimento educacional.

A falta de vínculo dos docentes com as escolas dificulta a construção de relações sólidas e comprometidas, essenciais para um ambiente educacional saudável e produtivo, minando a confiança na própria unidade educacional.

Destacamos alguns desses problemas, como a escassez de profissionais da educação nas escolas. Ela não é apenas um obstáculo para garantir o direito à educação, mas também uma ameaça à saúde física e mental dos seus trabalhadores.

O excesso de carga de trabalho e a falta de suporte adequado resultam em exaustão e desmotivação, comprometendo não apenas o bem-estar dos educadores, mas também a qualidade do ensino oferecido.

Educação não é privilégio! É um investimento fundamental para o presente e o futuro de uma comunidade. É por meio dela que se constrói uma sociedade mais justa, igualitária e próspera.

Portanto, é imperativo que sejam feitos investimentos robustos e consistentes nessa área, bem como uma gestão orientada pela técnica e pela busca por transformação social.

Quem, verdadeiramente, valoriza a educação anseia por uma gestão que privilegie a escuta real das escolas, de modo democrático, como por exemplo: que viabilize aos diferentes contextos escolares a garantia da estrutura necessária para construção de soluções locais em busca de uma educação de qualidade socialmente referenciada; que se debruce sobre a construção de políticas públicas que se perpetuem e atravessem iniciativas de governo na busca pela resolução de aspectos do contexto extraescolar e outros relativos ao funcionamento do próprio sistema.

Afinal, educação é a única política pública que atende ao mesmo beneficiário por, no mínimo, 200 dias em um ano e, em grande parte, durante todo o dia. Não entender esse contexto e não ter uma gestão orientada para resolver os problemas das unidades de educação é um ataque direto ao presente e ao futuro de nossa sociedade.

A educação não é cara, cara é a sua falta! Quem deseja se aproximar da educação não pode se esquecer das palavras da grande sambista, Dona Ivone Lara: “Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho”, pois a relação com as escolas só pode ser saudável e contribuir para a construção de uma sociedade melhor, se for democrática, baseada em respeito e diálogo, o que pressupõe escutar a voz do outro para se construir algo de forma coletiva.

As rupturas necessárias são aquelas feitas com práticas autoritárias e desagregadoras, bem como com pessoas que não sabem se comprometer com a democracia e a gestão democrática da educação. Educar é ato de amor e de afeto e pressupõe movimento. Mas também é resistência e luta!

*Thiago Risso é pesquisador, mestre em Política Social (UFF) e membro do Fórum Estadual de Educação do RJ.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum.