O cenário político contemporâneo é intrinsecamente ligado à esfera digital, onde a presença online de um candidato tornou-se um aspecto relevante para a sua visibilidade.
Com a ascensão das redes sociais e plataformas como o YouTube, mensurar o potencial eleitoral através da audiência em lives pode parecer tentador. No entanto, esta métrica por si só não é definitiva do sucesso de uma empreitada eleitoral ou da verdadeira influência de um político.
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Nesse contexto emerge a comparação que partidários de Bolsonaro fizeram entre a live levado ao ar pelo ex-presidente quando do vazamento de sua reunião ministerial golpista e as médias de audiência de lives de Lula, na mesma plataforma.
Segundo o site Poder 360, favorável ao ex-presidente, a autodenominada “Super Live” do clã Bolsonaro, em 28 de janeiro de 2024, ancorada pelo patriarca e seus filhos, “teve mais audiência do que toda a audiência somada nas 20 lives de Lula realizadas em 2023”.
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A mesma fonte informa que as 20 primeiras lives de Bolsonaro como presidente haviam acumulam 21,5 milhões de views no Facebook.
Números expressivos, mas Bolsonaro, em que pese ter gasto R$ 300 bilhões do Tesouro Nacional - segundo dados do Ministério da Fazenda - para tentar se reeleger, perdeu a eleição.
Que peso real tem isso, então? Antes de mais nada, é essencial reconhecer que o engajamento nas redes sociais é apenas uma faceta do amplo espectro que compõe o potencial de liderança e eleitoral de um político.
As lives no YouTube com baixa audiência podem ser reflexo de diversos fatores, incluindo horários inapropriados, saturação de conteúdo ou mesmo estratégias de comunicação ineficazes. Isso não significa, contudo, que a base de apoio do candidato seja insuficiente ou que suas políticas não tenham apelo popular.
Além disso, há exemplos históricos de candidatos que tiveram performances modestas em plataformas digitais, mas que conseguiram mobilizar eleitores de maneira eficaz em outros meios.
O próprio Lula, eleito três vezes presidente, jamais teve uma performance relevante nas redes sociais, mesmo agora em seu terceiro mandato.
Campanhas eleitorais bem-sucedidas frequentemente se valem de uma combinação de estratégias, incluindo publicidade tradicional, eventos presenciais, debates e entrevistas em diferentes meios de comunicação.
A capacidade de conectar-se com eleitores através de interações face-a-face ou de gerar cobertura midiática positiva pode ser tão ou mais impactante que a audiência de um ou mais eventos online, isso para não falarmos de bots usados para turbinar likes e simular presença.
Importante também é a substância do que é comunicado e como isso ressoa com as necessidades e desejos do público. Políticas propostas, a performance de gestão, o histórico do candidato e sua habilidade em articular soluções para problemas concretos são fatores determinantes na formação de uma base de apoio leal e no convencimento de eleitores indecisos.
O carisma pessoal e a capacidade de inspirar confiança são elementos que muitas vezes transcendem a esfera digital.
Por fim, a participação ativa e organizada de ativistas, a força partidária, a construção de coalizões políticas e o endosso de figuras influentes para além da bolha do candidato possuem um peso considerável na amplificação do alcance de um candidato.
Redes sociais oferecem uma plataforma para a mobilização, mas são os movimentos organizados e as estratégias de campanha terrestre que frequentemente convertem o suporte digital em votos reais.
Assim como a alta audiência, a baixa audiência em lives do YouTube é uma métrica limitada quando isolada dos demais indicadores de potencial eleitoral.
Para avaliar adequadamente as chances e a performance de uma liderança, é preciso considerar um conjunto diversificado de variáveis, desde o engajamento em múltiplas plataformas até a capacidade de articulação política e conexão emocional com o eleitor.
A verdadeira medida do potencial de liderança de Lula reside em sua habilidade em orquestrar todas estas dimensões em uma sinfonia persuasiva que culmina em sua força eleitoral.
* Chico Cavalcante, jornalista e consultor político, é diretor de criação e estratégia da Agência Vanguarda
** Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum