Neste domingo (10), diversos movimentos sociais e partidos de esquerda publicaram um manifesto contra o chamado “pacote de corte de gastos” em estudo no governo. Do ponto de vista dos movimentos sociais, nada de novo. Eles são porta vozes de legitimas aspirações do povo brasileiro. Os demais partidos de esquerda, embora componham a frente ampla que elegeu o presidente Lula em 2022 e façam parte do primeiro escalão do governo, têm a sua própria dinâmica e interesses.
Já do PT, partido do presidente Lula e condutor principal da Frente que também assinou a nota, esperava- se outra postura. Nós não estamos no governo, nós somos o próprio governo. Não somos um movimento social, somos o partido político que dirige o país. Evidentemente que o partido pode e deve debater o governo, suas medidas e sua conduta e oferecer alternativas ao que não considera adequado, mas jamais num clima de confrontação e muito menos na mídia.
Não me consta que alguma instância de direção tenha feito uma discussão e firmado posição no sentido de assinar o documento dos movimentos sociais. Na primeira década do PT, muito se discutia sobre qual era o papel do movimento sindical e qual era o papel do partido. Mais de três décadas depois parece que essa discussão terá que ser refeita.
A conjuntura atual e o estreitos limites em que o governo opera, com um Congresso hostil e uma amplíssima e frágil composição, desautoriza qualquer amadorismo. O PT não pode fazer de conta que não é governo e nem desconhecer os claros limites do orçamento público e do regramento constitucional e infra constitucional que regem a receita e a despesa do governo.
Não é razoável que nossos dirigentes propaguem que as medidas que ora são debatidas no governo, são desnecessárias ou que seriam apenas caprichos do mercado.
Não podemos dividir os petistas entre os que se apresentam como defensores dos direitos sociais e os que estão no governo e querem sacrificar esses direitos. Alguém acredita mesmo que Lula e Haddad se prestariam a esse papel? Não setores do PT, mas o PT inteiro é o partido das reformas, da inclusão social, da democracia, das conquistas dos direitos do povo, do Brasil de todos.
Não é tarde para lembrar que muitos desses direitos foram possíveis graças aos nossos governos. Nem para pontuar que se hoje nossa economia cresce contra todas as previsões do mercado e gerou mais de 3 milhões de novos empregos em 20 meses de governo, mantendo a inflação sob controle, isso se deve à disciplina fiscal e ao esforço do governo em ampliar crédito, apoiar a renovação da indústria, à agricultura familiar e o agro. Todos se lembram do desastre orçamentário que foi a herança do Bolsonarismo e que Lula teve que começar a governar antes da posse pra garantir a aprovação da PEC da transição.
Também é imperativo ter presente que apesar de toda restrição orçamentária, da fatia cada vez maior do orçamento que as emendas parlamentares consomem, o governo retomou investimentos em infraestrutura, ampliação e criação novos de programas sociais, criou o novo arcabouço fiscal e aprovou a reforma tributária.
Nada disso é novidade pra nós. Ainda no primeiro mandato de Lula, tivemos que fazer reformas dolorosas que desagradaram alguns e muitos até saíram naquele momento. O mundo não acabou e o resultado foi um governo com mais de 80 % de aprovação.
Um governo não é corrida de 100 metros. É uma maratona onde o que mais importa é como chegaremos à reta final. Pra isso não podemos errar no início e não erramos. Agora que estamos na metade da maratona é hora de fazer ajustes de olho na segunda e decisiva etapa do governo.
*Emidio de Souza é deputado estadual (PT-SP)
**Este artigo nao reflete, necessariamente, a opinião da Fórum