CRÔNICA

Unizap, a universidade do patriota – Por Francisco Fernandes Ladeira e Aurélia Hubner Peixouto

Segue rigorosamente os preceitos da tradicional família pseudo cristã brasileira, orientando-se por difundir pseudociência através de abordagens de conteúdos curriculares que não são baseados em autores subversivos como Marx, Darwin ou Freud

O patriota do caminhão.Créditos: Reprodução
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Imaginamos, por pura diversão, como seria o modelo educacional ideal da universidade do cidadão de bem, patriota e cristão-sionista. Como seria a instituição de ensino superior perfeita para o indivíduo que está concluindo o homeschooling, pois seus pais, acertadamente, não o matricularam em escolas comunistas, onde se ensina ideologia de gênero e se distribui kit-gay e mamadeira erótica. Trata-se da Unizap: a universidade com selo Olavo de Carvalho de ensino.

A Unizap segue rigorosamente os preceitos da tradicional família pseudo cristã brasileira, orientando-se por difundir pseudociência através de abordagens de conteúdos curriculares que não são baseados em ideias de autores subversivos e cientificistas – como Marx, Darwin ou Freud –, mas em postagens em grupos de WhatsApp conservadores e nas redes sociais de verdadeiros homens sábios como Ricardo Vélez Rodríguez, Abraham Weintraub e Milton Ribeiro.

Ao contrário das universidades públicas, lá não há balbúrdia, plantações de maconha, professores petistas com camisas do Che Guevara, nem feministas de cabelo colorido nas axilas. A Xenofobia, o Criacionismo, e o Tráfico de Influência são princípios respeitados e difundidos, e estão resguardados sob o manto sagrado do Patriotismo, do Cristianismo, e enrolados em falsidade ideológica que se apresenta como direito de liberdade de expressão.

Entre as temáticas estudadas na Unizap estão: “A verdadeira história do vitimismo negro”, “Tratamento precoce salva vidas: a cloroquina como solução”, “O globalismo: como os comunistas querem dominar o mundo”, “Menina veste rosa, menino veste azul: educar por princípios”, “A Terra sempre foi plana, é só ver”; “Como lançar celulares e computadores ao mar antes que a Polícia Federal os apreenda” e o imperdível “A marca de Caim: como a Bíblia justifica o escravagismo”. A Unizap está pronta para resgatar para as familícias a Educação destruída por Paulo Freire quando foi ministro petista.

E por último, mas não menos importante, ela, a Unizap, trabalha com sistemas de cotas para homens brancos heterossexuais, para ricos e para classe média escravagista empreendedora, combatendo com fuzil e bomba o famigerado racismo reverso. Nessa instituição não existe ditadura da minoria.

*Francisco Fernandes Ladeira é doutorando em Geografia pela Unicamp e Aurélia Hubner Peixouto é doutoranda em design na Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação na Universidade Europeia.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.