PAULO JUBILUT

Das chuvas históricas ao calor extremo: El Niño cresceu e está se rebelando. Quem poderá contê-lo?

As mudanças climáticas criaram o "super El Niño", um evento mais grave e prolongado. É hora de agir de forma decisiva, implementar políticas eficazes e trabalhar juntos para enfrentar esse desafio

Créditos: /Reprodução/Meteored
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O que as chuvas de Petrópolis, no Rio de Janeiro, e Bertioga, no litoral de São Paulo, e mais, recentemente, o ciclone do Rio Grande do Sul têm em comum? Será que esses eventos extremos são apenas coincidências?  

A geografia da Serra do Mar, que se estende desde o Rio de Janeiro até o Rio Grande do Sul, desempenha um papel importante nisso. As encostas íngremes e a camada de solo raso acima das rochas tornam os deslizamentos de terra uma ameaça constante. Além disso, essa cadeia de montanhas atua como uma barreira que retém as nuvens, resultando em chuvas frequentes e intensas. 

No entanto, não podemos culpar apenas a geografia. As mudanças climáticas também contribuem significativamente para esses eventos extremos. Nas últimas décadas, temos visto um aumento nas taxas de chuva e evaporação, o que significa que estão mais intensas. Com aquecimento das águas do mar, a evaporação aumenta, desempenhando um papel crucial na formação de nuvens e chuvas, especialmente nas áreas próximas ao mar.  

De acordo com previsões, a cada grau de aumento na temperatura global, os eventos de chuva extrema podem aumentar em cerca de 7%. Na prática, estamos sentindo agora o impacto dessas ondas de calor extremo, que potencializam riscos de morte e o agravamento de doenças.  

Agora, vamos falar sobre o El Niño. Esse fenômeno natural aquece as águas do Pacífico e afeta o clima global. Se é esperado, qual o problema desta vez? Com o cenário que descrevi, o andamento do El Niño pode tornar 2024 o ano mais quente já registrado. Isso intensifica extremos de chuva e seca em todo o mundo e contribui para o aquecimento global.  

As mudanças climáticas criaram o "super El Niño", um evento mais grave e prolongado. Pesquisadores estimam que há mais de 80% de chance de que isso aconteça até o final de 2023. Os impactos do El Niño continuarão por meses e afetarão diferentes regiões do Brasil de diferentes maneiras, desde secas no Norte e Nordeste até chuvas intensas no Sul e Centro-Oeste.  

O que estamos fazendo para lidar com essas mudanças climáticas? O Brasil lançou o plano estratégico Brasil 2040, que inclui várias medidas para nos adaptarmos a essa nova realidade. Modelos de previsão climática e estratégias para a economia estão sendo desenvolvidos. É importante lembrar que as políticas devem proteger as pessoas mais vulneráveis, que são as mais afetadas por eventos extremos.  

Estamos em um momento crítico. As mudanças climáticas estão se intensificando, e o El Niño está complicando ainda mais as coisas. É hora de agir de forma decisiva, implementar políticas eficazes e trabalhar juntos para enfrentar esse desafio. O nosso futuro depende disso. Vamos continuar discutindo como podemos proteger o nosso planeta e o nosso país das mudanças climáticas. Está em nossas mãos moldar o futuro. 

*Paulo Jubilut é mestre em ciência e tecnologia ambiental e professor de biologia no Aprova Total

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum