O brasileiro que via com espanto as notícias de ataque a escolas nos Estados Unidos hoje está mais perto dessa realidade. As estatísticas ainda não apontam dados concretos, mas revelam um número crescente e preocupante desse tipo de violência no universo escolar do país.
Mês passado na capital paulista, um estudante de 13 anos matou uma professora a facadas e feriu mais cinco pessoas. O adolescente, com um histórico de preconceito, teria agredido, anteriormente, outro aluno com palavras de teor racista. No dia seguinte, em um colégio da Zona Sul do Rio, um aluno de 15 anos tentou atacar a colega com uma faca. Ele também agredira um professor, um mês antes, com ofensas racistas.
Retrocedendo um ano, fato parecido aconteceu em uma universidade pública carioca. Aluno atuante em fóruns na internet compostos por homens com discurso de ódio, e que já havia gravado conteúdos afrontosos a pessoas negras, ameaçou usar artefato explosivo contra a instituição, obrigando a reitoria a paralisar as aulas por dias.
Aqui apresentamos fatos envolvendo preconceito de cor, mas que servem para chamar atenção para inúmeras situações que já integram o nosso dia a dia. Não são poucos os profissionais da educação e alunos atacados verbalmente por racismo, lgbtfobia, etnia, religião, misoginia e outras discriminações.
Há ainda o temor entre professores de ministrar aulas frente às ameaças por ideias e opiniões políticas e de costume que alunos entendam ser diferentes das deles. São muitos os casos que não vêm à tona por se tratar de situação extremamente complexa e delicada. Como presidente da Comissão de Combate às Discriminações da Alerj, tenho recebido denúncias de docentes com pedidos de sigilo.
Quase a totalidade desses episódios tem características em comum: além de muitos dos adolescentes trazerem registros de sofrimento ou frustração em algum momento da vida, a maioria deles faz parte de círculos de extrema direita formados na internet com comportamento autoritário e agressivo.
Sabemos que há um ambiente propício para isso na sociedade brasileira que, nos últimos quatro anos, foi bombardeada pelo discurso de ódio dirigido por governantes e líderes ultradireitistas a opositores políticos. Tais comportamentos têm um peso de inspiração para servir a desejos de aniquilar quem está “do outro lado” ou que julgue ser um “indivíduo diferente”.
Por tudo isso, não é exagero dizer que uma parte da sociedade brasileira adoeceu pelos estímulos à agressividade quanto aos adolescentes, a situação é mais grave, já que expressam suas emoções de forma mais impulsiva e dinâmica.
As conjunturas violentas são terra fértil para o surgimento de medidas policialescas e punitivistas, como os debates no parlamento sobre projetos que querem reduzir a maioridade penal ou destacar agentes armados para as portas das escolas públicas. Aqui, no estado do Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro está longe de oferecer um alívio para a comunidade escolar, já que a sua proposta se limita à criação de um aplicativo com botão antipânico e curso do Bope e da Core para professores e diretores.
São respostas que não se destinam à prevenção, não nos protegem da manipulação digital contemporânea e não tratam da saúde mental e comportamental do aluno. As autoridades precisam analisar esses casos pela ótica do extremismo de direita e sua influência no cotidiano dos adolescentes solitários, com baixa autoestima ou tendência a comportamento violento.
Medidas de segurança são necessárias, mas não darão confiança aos estudantes, familiares e profissionais da educação. Isso só virá por meio de iniciativas de prevenção e tratamento dos possíveis autores desses atos de violência. Há que haver um plano nacional envolvendo várias autoridades do Executivo e, nos estados, a união do Legislativo, Judiciário e MP.
Podemos citar iniciativas governamentais visando à criação de grupos terapêuticos e espaços de acolhimento com psicopedagogos, psicólogos e assistentes sociais que atendam comunidades escolares por região, e a instalação de agências de monitoramento a fim de desarticular grupos extremistas na internet dirigidos a jovens. Mesmo porque há relatos de muitos pais e professores apontando atitudes fora do habitual, ou de ordem extremista, em casa, na escola ou no contato com o computador antes de o jovem praticar os atos violentos.
É importante ressaltar a urgência da educação antirracista em todas as esferas do ensino público. Criar e efetivar leis que incluam a cultura e história afro-brasileira nos meios educativos.
Por fim, é evidente que escola não é lugar de armas nem de punições, mas, sim, de formadores de gerações futuras. Essa juventude precisa compreender que a diversidade e o convívio com outras orientações políticas equilibram e enriquecem a convivência humana.
*Professor Josemar (PSOL-RJ) é deputado estadual e presidente da Comissão de Combate às Discriminações da Alerj.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.