O debate sobre quem controla a educação reflete nitidamente a estrutura de poder de nossas instituições educacionais. O uso de estruturas inflexíveis de currículo, formação continuada enviesada e avaliações padronizadas restritivas têm levantado questões pertinentes sobre a natureza democrática e emancipatória do sistema educacional, pois com frequência polarizam, de um lado as instituições que buscam normatizar a educação e, do outro, os atores que de fato fazem a educação no cotidiano escolar.
A análise de diferentes experiências, não só no território nacional, mas também no cenário mundial, tem demonstrado que, frequentemente, as tentativas autoritárias e centralizadas de controle e normatização do processo educacional, sem a participação efetiva e dialógica dos agentes do contexto da prática, tendem ao fracasso por não serem capazes de promover melhorias educacionais e, menos ainda, de promover o desenvolvimento integral dos estudantes rumo a uma formação cidadã e transformadora.
Para promover uma verdadeira educação de qualidade é essencial reconhecer a importância de um processo educacional que reflita a realidade local e as necessidades específicas dos estudantes. A imposição verticalizada de diretrizes centralizadas desconsidera a riqueza das experiências individuais e coletivas que moldam o contexto educacional. Além disso, as avaliações em larga escala, frequentemente focadas apenas em aspectos acadêmicos restritos, deixam de lado o desenvolvimento holístico dos estudantes.
É vital expandir o escopo das avaliações para incluir aspectos como criatividade, habilidades práticas e consciência social, a fim de nutrir cidadãos críticos e comprometidos com a sociedade em que vivem; tal como é igualmente importante abrir espaço para o debate e a reflexão constante e coletiva sobre referenciais curriculares e pedagógicos.
A construção de uma educação democrática exige a participação ativa de todas as partes interessadas, incluindo estudantes, profissionais da educação, gestores, pais e a comunidade local, bem como uma responsabilidade compartilhada destes atores.
A colaboração entre esses atores é fundamental para garantir a criação de um ambiente educacional inclusivo e participativo, que respeite e valorize a diversidade de perspectivas e experiências.
Ao descentralizar o controle da educação e promover a participação ativa de todos os envolvidos, estamos criando um espaço de aprendizagem pleno de ressonância para com as necessidades e aspirações de nossa comunidade e, por isso, pleno de sentidos para educadores e educandos.
Somente por meio de um esforço coletivo e uma abordagem verdadeiramente inclusiva podemos alcançar uma educação que promova a justiça social, a igualdade de oportunidades e a autonomia dos estudantes.
*Thiago Risso é mestre em Política Social e subsecretário de Educação de Niterói.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum.