Conforme nos aproximamos das eleições de 2022 vários partidos repetem a estratégia de lançarem candidatos que possam ser potenciais puxadores de votos.
O termo “puxadores de votos” se refere àqueles candidatos com capacidade de superar o chamado quociente eleitoral (índice calculado para que os partidos e federações saibam quantos assentos terão direito na Câmara dos Deputados e nas Assembleias Legislativas) [1] por si sós, com votações suficientes para trazerem para dentro da arena legislativa outros candidatos do seu mesmo partido ou federação [2] e que tiveram votações menores.
Nesse quesito, um dos partidos que pode ser considerado o campeão nesse tipo de estratégia é o PL (Partido Liberal), atual sigla do presidente Jair Bolsonaro, o que não é nenhum mérito.
Muito pelo contrário, trata-se de uma estratégia um tanto quanto perversa, que se sustenta na desinformação de parte da população acerca de como funciona esse artifício e de como funciona nosso sistema eleitoral proporcional de lista aberta. A estratégia de buscar puxadores de votos por parte do partido não é tão recente assim (e também não é nova na política brasileira, diga-se de passagem).
Em 2010, o mesmo partido, que na época ainda se chamava PR (Partido da República) [3] foi aquele que lançou Tiririca para a política brasileira, com uma votação recorde naquela ocasião. Foram mais de 1,3 milhão de votos para o famoso palhaço [4].
O partido na ocasião reservou praticamente todo o seu tempo de TV para o candidato/humorista em sua propaganda no estado de São Paulo, com uma campanha que apostava na aversão que a população brasileira tinha (e ainda tem) pela classe política brasileira.
Afinal, quem não se lembra do seu slogan “Pior do que tá não fica”?
Sua sigla chegou até a fazer uso da sua imagem em estados nos quais não era o da sua candidatura, como o Amazonas [5], para impulsionar a eleição de outros de seus filiados.
O resultado final dessa estratégia de lançar um candidato “de protesto” contra a classe política deu certo. Com sua votação, capaz de superar o quociente eleitoral mais de uma vez, Tiririca foi eleito e acabou por ajudar a eleger pelo menos mais três deputados da sua coligação [6], evidenciando, assim, que toda a crítica que sua campanha fazia à política tinha, na verdade, a intenção de fundo de perpetuá-la com sua mesma configuração, apostando na desinformação e no desencanto dos brasileiros com a política [7].
Depois de ter dado certo, essa mesma estratégia de campanha foi utilizada mais uma vez em 2014 [8] e em 2018, apesar de Tiririca ter dito que se “sentia envergonhado com os políticos e ia deixar a política brasileira” [9]. Agora, se repete em 2022, quando o PL, mais uma vez, aposta nele para ser um potencial “puxador de votos”.
Com o início da propaganda eleitoral gratuita, todo o tempo do seu partido foi dedicado a ele, enquanto faz uma imitação nada engraçada (pelo menos para mim) de Roberto Carlos, dizendo seu novo número pra essa eleição.
Uma estratégia que tem dado certo desde que o partido o procurou para ser candidato pela primeira vez, que o permitiu ajudar a reeleger vários envolvidos no chamado “escândalo do mensalão”, e que no fundo, não é nada engraçada.
2-https://congressoemfoco.uol.com.br/area/congresso-nacional/partidos-novas-regras-eleitorais/
9-https://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2018-10-08/tiririca-e-reeleito-sp.html
*Rafael Moreira é doutor e mestre em Ciência Política.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.