Estamos vivendo o que parece ser uma espécie de universo paralelo. É impossível receber a notícia de uma morte motivada por ódio, por convicção ideológica, sem qualquer problema aparente entre as partes envolvidas e não se indignar diante desta barbárie.
Essa situação que aconteceu aqui no Paraná, na cidade da tríplice fronteira, que exerce o papel da integração latino-americana, a cidade que representa a união e a diversidade sociocultural foi palco para a intolerância, para o ódio.
É inaceitável que bolsonaristas e determinados veículos de imprensa busquem resumir o fato como uma briga, como se cada uma das partes tivessem exercido o mesmo papel. O pronunciamento do vice-presidente da república, por exemplo, de que essa é “mais uma briga de fim de semana que acontece nas cidades” é um escracho à democracia, é uma gargalhada cruel que minimiza o ambiente de caos instalado pelo bolsonarismo.
Costumo dizer que não basta derrotar Bolsonaro, é necessário derrotar o bolsonarismo. E é essa vertente, que alimenta o ódio, que radicaliza o ideário de uns contra os outros, não como adversários políticos, mas como inimigos.
Gosto de lembrar que por décadas acompanhamos e protagonizamos uma divergência política saudável. Não existiam assassinatos entre tucanos e petistas. O que havia era uma divergência natural, completamente dentro da normalidade democrática que prezava pelo debate de ideias e pelo respeito.
Não podemos aceitar que utilizem este crime tão atroz que foi o assassinato de nosso companheiro Marcelo Arruda para vender uma narrativa de que há uma polarização política e uma radicalização ideológica dos dois lados. O que vemos é o extremismo bolsonarista, afinal, ninguém nunca viu uma história onde os papéis de agressor e vítima estejam invertidos, onde um petista tenha invadido a casa de um bolsonarista e ameaçado matar a todos.
Marcelo estava comemorando seu aniversário de 50 anos com sua família e amigos, um homem que dedicou sua vida a lutar pelos direitos das pessoas, seja no trabalho, no sindicato, no partido. Marcelo estava feliz ao expressar sua ideologia, sua realização de votar em Lula e foi esse o motivo de ter sido assassinado, ousar defender uma bandeira, ousar defender um projeto, ousar ter esperança de construir um novo Brasil.
Era sábado a noite, recebi em um grupo de Whatsapp do partido foto e vídeo do aniversário do Marcelo cantando parabéns com os enfeites do PT e Lula ao fundo. Era 22:21 quando recebi essa mensagem no sábado, uma mensagem que demonstrava felicidade, alegria dos amigos no vídeo, uma simples festa de aniversário.
Acontece que no mesmo grupo, às 2:40 do domingo, a mensagem era o relato do que tinha acontecido minutos após o parabéns. A mensagem era de que Marcelo estava em estado grave na UTI, e então às 4:42 a nova mensagem era de que ele havia falecido.
Estava tudo bem e de repente um extremista que se diz cidadão de bem, amante das armas e apoiador de Bolsonaro invadiu o local e prometeu uma chacina. Marcelo foi heroico em seu último ato de vida, defendeu a todos que estavam ali e impediu uma tragédia ainda maior.
Quantos bolsonaristas vemos se apresentando da mesma forma que o assassino nas redes sociais? A verdade é que o bolsonarismo abriu as portas para a barbárie, as pessoas perderam o receio de serem inescrupulosas. Este é o Brasil de Bolsonaro, de um presidente que defende o armamento em massa, que estimula o ódio e uma rivalidade estúpida, que ultrapassa qualquer limite.
É muito preocupante, a escalada da violência é real. Construíram um ambiente do caos, um verdadeiro ideário de guerra. Mas é fundamental que a gente tenha em mente que não existe guerra, precisamos levar a mensagem de que a polarização é eleitoral, apenas. Se há extremismo, se há o desejo de aniquilar aquele que pensa diferente, isto parte de apenas um polo, é unilateral, é comportamento do bolsonarismo.
Por isso defendemos que este caso seja federalizado porque não é pontual. Este acontecimento colocou o dedo na ferida do que estamos enfrentando, expôs a violência e a sensação de perigo que está em nossa órbita. Mas existem outros casos, outros ataques, sejam físicos ou verbais, que precisam ser investigados, pois a impunidade certamente contribui com a potencialização da violência política.
E mais, este ano é eleitoral, em menos de 3 meses iremos às urnas no primeiro turno. A cada dia que passa estamos mais vulneráveis diante do ódio propagado pelo bolsonarismo. Como cidadão, deputado, presidente do partido e pai, meu clamor é para que as Instituições redobrem os cuidados quanto à segurança durante o período eleitoral.
A eleição é a festa da democracia, é o momento onde levamos milhões de brasileiros a refletir, debater e pensar sobre os rumos do país, e é imprescindível que possamos exercer a nossa cidadania com tranquilidade, sem precisar ter medo de sermos livres e podermos expressar nossas opiniões e preferências políticas.
*Arilson Chiorato é deputado estadual e presidente do PT Paraná
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum