O povo brasileiro precisa da Embrapa. O Brasil, para ser uma nação justa, soberana e seu povo bem alimentado, necessita da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) – de uma Embrapa forte, pública, dinâmica, abrangente, plural, democrática, focada na transição ecológica que a vida humana e do planeta exigem, na agricultura familiar e camponesa, na produção de alimentos saudáveis e na soberania alimentar e genética.
Nenhuma nação se ergueu soberana e como civilização até hoje, nem na história antiga, nem na história recente, sem soberania alimentar, genética, energética e científica.
A Embrapa é um pilar essencial na construção de uma nação soberana e uma civilização justa e fraterna – projeto pelo qual lutamos. Sem ciências – sempre no plural e sempre plural, autônoma e soberana, sem deixar de ser dialógica e respeitadora – nossos sonhos civilizatórios se esboroam na dependência que nos escraviza a projeto de outros, que nos sugam e exploram.
Claro que defendo um sistema de ciências que seja respeitoso e aprendente com as sabedorias populares, também ciências, com outras matrizes epistemológicas.
A Embrapa é a madrinheira do pilar científico e tecnológico para a soberania alimentar do povo brasileiro – também para alimentar o mundo, não apenas com proteínas à base de soja, mas com alimentos diversificados – e, na medida que as fontes vegetais podem compor uma matriz sábia e equilibrada de alimentos, meio ambiente e energia (alimergia), também para nossa soberania energética.
Vejam que os que não amam o Brasil Nação, nem amam o nosso povo, embora tentem se apossar de nossa bandeira, são inteligentes e precisos: seus alvos são a Petrobras, a Eletrobras, a pesquisa científica e, agora, a Embrapa. Atingem os pilares básicos da construção de nossa soberania energética, alimentar e científica.
A Embrapa não escapou da sanha privatista dos atuais invasores do poder. Um projeto estranho – chamado de “Transforma Embrapa” – desenhado pela estranha Fundação Falconi, estranhamente contratada (não pela Embrapa, mas por entidades patronais do agronegócio) propõe a privatização disfarçada da Embrapa. Uma privatização velada, camuflada por palavras bonitas, uma armadilha bem arquitetada.
Aliás, esta fundação Falconi, um dia, terá que ser rigorosamente investigada pelos males causados ao povo brasileiro como a grande arquiteta das privatizações. No caso da Embrapa, de modo especial, haverá muito a explicar.
O projeto de privatização desenhado pela Falconi é inteligente, sagaz, bem arquitetado, mas bandido e antinacional. Coloca a Embrapa nas mãos das multinacionais, de quem pode pagar pesquisa, retira o Estado de suas responsabilidades de financiar a ciência e a pesquisa, e joga tudo ao mercado.
Vejam só. Raciocinem comigo. Quem domina o fornecimento de produtos e tecnologias para o agro brasileiro hoje são as multinacionais. Não precisam da pesquisa, nem dos pesquisadores da Embrapa. Tem sua própria pesquisa. Quem precisa da Embrapa são os pequenos e médios agricultores, pecuaristas, silvicultores, pescadores, extrativistas, povos do campo, águas e florestas.
Mas se as transnacionais do agro não precisam da Embrapa enquanto empresa pública de pesquisa, e não lhes interessa, elas têm interesses específicos e altamente lucrativos no seu capital de saberes: o acervo científico e tecnológico acumulado em décadas de pesquisa e o enorme e fantástico patrimônio genético (um dos maiores bancos de germoplasma do mundo) mapeado, identificado e disponível de sementes, mudas, princípios ativos e micro-organismos, que poderão ser vendidos a preço vil por uma Embrapa desfibrada e capturada.
Anos e anos de estudos, pesquisas, desenvolvimento tecnológico, relação com as comunidades camponesas para resgatar, selecionar, melhorar e identificar usos, da genética animal, agrícola, alimentar, energias renováveis, defesa agropecuária, florestal, medicinal, higiene, limpeza, plantas bioativas, restauração ambiental, rochagem, bioinsumos, controle biológico e muito mais serão entregues a preço vil às multinacionais, ferindo de morte os interesses do povo brasileiro.
Por isto, esta convocação. Nos postemos de pé, em defesa da Embrapa pública, patrimônio do povo brasileiro e cada vez mais voltada às reais necessidades do nosso povo.
*Frei Sérgio Görgen ofm é frade franciscano, militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Via Campesina.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.