Há controvérsias importantes sobre a eliminação da pobreza extrema na China, anunciada em 2020, e do país ter retirado da pobreza, de 1980 até agora, aproximadamente 800 milhões de pessoas. O que não se contesta é o crescimento fantástico do poder aquisitivo da sua população, expresso nas dimensões superlativas do seu mercado consumidor, e as perspectivas mais que animadoras para 2030, segundo todos os estudos disponíveis na Internet: do Banco Mundial, de 2013; da revista The Economist de 2016; do Morgan Stanley, de janeiro de 2021 (disponível apenas para clientes); e da consultoria McKinsey (Five consumer trends shaping the next decade of growth in China | McKinsey), de novembro de 2021.
Trata-se de um mercado estimado em US$ 6,3 trilhões, em 2019, e que deverá chegar a US$ 13 trilhões em 2030, se não surgirem grandes turbulências no meio do caminho. Dobrar de tamanho em uma década é a expectativa para o mercado chinês. Impossível de se acreditar, não fosse pelo histórico de crescimento: de US$ 940 em 2000, a renda per capita pela paridade cambial saltou em 2020 para US$ 10.435 e US$ 17.211 pela paridade do poder de compra (PPP) – bem acima da renda brasileira, de US$ 6.797 a cambial e US$ 14.835 a PPP.
Realmente, é muito dinheiro: há cinco anos, o PIB da China, calculado pela PPP, ultrapassou o dos Estados Unidos (EUA), e em 2020, quando atingiu US$ 24,3 trilhões, representou 18,2% do PIB mundial. Naquele ano, com US$ 20,9 trilhões, os EUA ficaram com 15,7% do total mundial.
Esse mercadão imenso é resultado de fatores favoráveis que ocorrem de maneira combinada na China há mais de 30 anos: migração de centenas de milhões de pessoas, das áreas rurais para cidades, fazendo do mercado de trabalho urbano chinês o maior do mundo; pleno emprego e aumentos reais de salário; significativas alterações demográficas; e crescimento constante do poder aquisitivo da população.
Some-se a tudo isso a mudança da estratégia de desenvolvimento, no 12º Plano Quinquenal (2011-2015), do mercado externo para o mercado interno, com estímulo governamental ao aumento do consumo, mais as dezenas de milhões de pessoas que enriqueceram junto com o crescimento do PIB de 9% ao ano, na média do período. Segundo país do mundo em quantidade de bilionários, com quase 700 em 2021, a China tem também a segunda maior quantidade de empresas com maior faturamento. Por essas razões, até 2030, o mercado chinês será o maior, o mais rico e o mais diversificado do mundo.
Evidentemente, a redução da pobreza na China é causa e efeito de todas essas transformações, pois os 500 milhões de trabalhadores rurais que foram incorporados ao mercado de trabalho urbano, a partir de 1980, quantidade equivale a cinco vezes a população economicamente ativa do Brasil, geraram grande parte da riqueza hoje existente e ficaram com uma parte dela, expressa em patrimônio e na taxa de poupança do país, que é a maior do mundo.
Comentarei sobre mais alguns aspectos importantes da redução milionária da pobreza na China no dia 14 de abril, das 19h30 às 21h, para estudantes da Universidade Federal Fluminense, neste link (número da sala: 670-4476-5752).
*Milton Pomar é mestre em Estado, Governo e Políticas Públicas, geógrafo e professor.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.