O primeiro grande desafio para as mulheres trabalhadoras neste ano, sem sombra de dúvida, é a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República. E, para sermos vitoriosas nesta disputa, é necessário construir uma grande mobilização nacional aliada a um projeto político radicalmente comprometido com as pautas mais urgentes para o conjunto da classe trabalhadora, como a revogação do teto de gastos e das “desrreformas” executadas desde o golpe misógino contra nossa companheira e ex-presidenta Dilma Rousseff.
Nesse contexto é essencial termos especial atenção às pautas das jovens mulheres, em especial as negras e indígenas. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que a dificuldade de encontrar emprego entre pessoas da faixa de 19 a 29 anos, que já era grande, se aprofundou com a pandemia. A nota técnica do Ipea adverte que “a proporção de ocupados entre os adultos era 7,3 pontos percentuais acima dos jovens em 2015, diferença que se elevou para 12,3 pontos percentuais em 2020. Os números são reveladores do cenário desafiador que se coloca sobre essa parcela da população.
País racista - Acrescentando a questão racial e da situação das mulheres, o panorama persiste desanimador. Ainda conforme o Ipea, “em 2020, as mulheres, negros e jovens de 19 a 29 anos possuem taxa de desemprego cerca de 3 p.p., 6 p.p. e 13 p.p. acima de seus respectivos grupos de comparação”. A combinação desses fatores é o retrato de um país racista, patriarcal e capitalista.
A juventude, as mulheres e a população negra e indígena são as vítimas prioritárias de uma dinâmica perversa, que vira as costas para a maioria de seu povo. Assim, a novidade política que representa o Partido das Trabalhadoras e Trabalhadores se converte em um persistente medo das elites. A capacidade de transformações que fizemos jogou luz sobre esses debates de uma forma totalmente única. Contudo, nossa ação não se enraizou suficientemente nos corações e mentes do nosso povo. A realidade é que a maioria das decisões que impactam diretamente o cotidiano de milhares de jovens mulheres, negros e negras, continua sendo tomada por homens brancos, ricos, conservadores.
Assim, chegamos em 2022 com muitas tarefas a cumprir. Reorganizar a presença dos grupos de esquerda nas bases; elaborar um plano de enfrentamento ao avanço da fome combinado a estratégias para a criação de empregos que absorvam a juventude; com investimento público, avançar no debate sobre as questões de gênero e tratar das violências contra as mulheres em suas variadas faces - da econômica à política. Esses são alguns dos desafios. Para a superação de problemas conjunturais e estruturais, temos que dedicar nossos melhores esforços.
A pandemia de Covid-19 ceifou mais de 600 mil vidas, o luto invade as casas brasileiras junto com um profundo desalento provocado pela carestia galopante e a ausência de uma perspectiva que não seja marcada pela violência armada ou pela dominação cultural conservadora. Precisamos mostrar que há horizonte e que ele é sim, vermelho, socialista, feminista e antirracista. Sem recuar, sem tempo a perder.
*Natália Bonavides é deputada federal (PT-RN)