O cenário da disputa eleitoral está cada vez mais consolidado. Ao que tudo indica, teremos uma eleição plebiscitária entre Lula e Bolsonaro. A terceira via continua disputando o terceiro lugar, com candidatos que não empolgam e sem que exista no horizonte um fato relevante capaz de reverter a polarização.
A turma de Sérgio Moro é aquela que queria lançar para governador de São Paulo uma figura como Arthur do Val, deputado flagrado em áudios repugnantes e misóginos dizendo que as “ucranianas são fáceis porque são pobres”.
O ex-juiz segue em um patamar na casa dos 6%, não conseguiu montar palanques locais e sofre resistência dentro do próprio partido, o Podemos. Por isso, no momento de definição do fundo eleitoral, ele e outros candidatos poderão ter grande dificuldade de manter suas pretensões eleitorais.
Para ter alguma viabilidade, a candidatura do governador João Doria (PSDB-SP) teria que partir do estado que ele governa, o maior colégio eleitoral do país, de um patamar que assegurasse alguma competitividade. Mas não é o que as pesquisas indicam. Nunca um candidato à Presidência saído de São Paulo partiu de uma situação tão vulnerável, inclusive em seu próprio partido, quanto Doria.
Ciro Gomes queimou os comerciais e inserções de rádio e televisão para tentar se tornar o candidato viável da centro-direita, mas segue em voo de galinha. Os demais candidatos persistem sem nenhuma relevância e sem qualquer densidade política ou força popular. E principalmente, sem discurso, histórico e programa para enfrentar a grave crise.
Por isso, a campanha está, já há algum tempo e de forma muito estável, claramente polarizada. De um lado, Lula com potencial de vitória inclusive no primeiro turno. Do outro, Bolsonaro persiste com um piso alto para a tragédia que é o governo dele, mas também com um teto baixo, porque tem rejeição consolidada e que não tem sido alterada.
O discurso da responsabilidade fiscal, que Bolsonaro e Guedes anunciaram no início do governo, virou água e o Centrão tomou conta do governo, abrindo a fase de um vale-tudo eleitoral. Além das medidas que apontamos nos textos anteriores — pedalada de R$ 44 bilhões dos precatórios, reajustes do salário mínimo e piso dos professores, aumento da cobertura do Auxílio Emergencial, liberação de contas bancárias inertes no Banco Central, anistia do Fies —, temos agora a liberação de R$ 22 bilhões do FGTS, a antecipação do 13º dos aposentados e pensionistas, o aumento do limite de endividamento do crédito consignado para 40% e os empréstimos de até R$ 1mil até mesmo para pessoas com o nome negativado em programas de microcrédito. O pacote é de R$ 150 bilhões e dá a medida do populismo fiscal e do desespero eleitoral de Bolsonaro. Tudo pela reeleição.
Mesmo liberando recursos, o governo não conseguiu impactar de forma significativa as intenções de votos para as eleições do presidente. Nas pesquisas, não houve nenhum movimento consistente e não há mudança de tendência, apenas pequenas variações dentro da margem de erro, entre Bolsonaro e a terceira via, que já estão sendo revertidas nas pesquisas mais recentes.
Isso por causa da peste, em que Bolsonaro foi incapaz de compreender o papel acima de qualquer outro valor de um homem público, que é a defesa da vida. Ele boicotou o processo de vacinação contra a covid-19 e atuou de forma deliberada para promover o contágio.
Bolsonaro sai da pandemia completamente humilhado, com negacionismo sanitário, do qual tenta tardiamente se descolar, carregando a dramática estatística de 657 mil mortos. Também pela precarização do mercado de trabalho, com o desemprego, subemprego e economia informal, que seguem em patamares altíssimos, com a economia andando de lado desde o golpe.
Ademais, os dados da economia de janeiro apontam que mais uma vez estamos saindo de um quadro de estagnação para uma trajetória recessiva, com o endividamento das famílias em um patamar recorde, subida muito rápida na taxa de juros e uma inflação que, há seis meses, está em um patamar de 10%.
A carestia está totalmente disseminada, trazendo de volta o elevado custo de vida e a fome. A situação tende a se agravar mais com o impacto econômico da guerra, que já promove o aumento do trigo e do milho e que vão encarecer o preço do pão, das massas. As altas dos preços também serão sentidas em outros itens importantes: carne de porco, frango, ovos e leite.
A guerra era só o que faltava para completar as pragas do Egito, que representam o desastre do governo Bolsonaro. A guerra impactou a economia internacional e duramente a brasileira, que segue com a dolarização dos preços do petróleo, depois do desmonte da Petrobrás, para beneficiar acionistas minoritários e 392 importadores.
Há muito tempo que a gente não via, no Brasil, filas nos postos de gasolina. A prova do impacto negativo dos preços dos combustíveis no governo são os ataques de Bolsonaro à Petrobrás e ao general presidente. A única coisa que todo mundo sabe é que foi Bolsonaro quem nomeou a diretoria. A responsabilidade é dele.
Então, esse é um governo que representa a guerra, a peste e a fome. Na contramão, Lula atravessou todo esse período mantendo uma liderança absoluta, com possibilidade de vencer qualquer candidato, em qualquer pesquisa e em qualquer cenário. Isso sem que os instrumentos de campanha, como inserções de rádio e televisão, que vão impulsionar seu nome, tenham sido acionados.
A força do Lula é o legado, é o equilíbrio e é a pessoa experimentada que dá estabilidade. Lula tem compromisso com a democracia, tem políticas sociais consistentes e inovadoras. Além disso, no governo, teve responsabilidade na condução da política econômica e ambiental. E, como se não bastasse, é uma liderança global aguardada pelo mundo civilizado e democrático, como as viagens internacionais mostraram.
Principalmente, o fato de que Lula, desde a prisão de 580 dias, não anda pelo Brasil. Agora que a pandemia parece ceder, ele vai voltar a percorrer o país e estar diretamente com o povo. No último final de semana, esteve no Paraná. E de lá não vai parar mais. No povo brasileiro e na militância, tem uma saudade guardada há muito tempo e uma vontade imensa de voltar a estar com o Lula.
Em breve, o PT apresentará um programa de governo para a reconstrução e transformação do país, que resgata o nosso legado e será portador de um novo futuro. Esse programa, somado à poderosa liderança popular de Lula, vai fazer toda a diferença a partir de agora. Em outubro, o Brasil estará diante de uma disputa entre a guerra, a peste e a fome — Bolsonaro — e a esperança de reconstrução e uma nova utopia histórica, que Lula representa.