OPINIÃO

Mais livros, menos armas - Por Tarcísio Motta

Bolsonaro nunca soube e parece que nunca vai saber que educação é instrumento para emancipação humana, que precisa ser pública, gratuita, de qualidade, democrática, laica, inclusiva, socialmente referenciada, solidária e com respeito à diversidade

Créditos: Gabriela Nogueira/Mídia NINJA
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Ainda faltavam dois quarteirões para chegar à Candelária, ponto de encontro da manifestação “Educação com Lula” da última terça-feira, no Rio, e a circulação de cartazes e faixas já mostrava a força do protesto. “Menos cortes, mais projetos”, “Alô, Bozo! Educação não é gasto, é investimento”, “Pedagogia contra os desmontes da educação pública”, diziam os letreiros. Assim como no Rio, estudantes e educadores tomaram as ruas de suas cidades em mais 20 estados e no Distrito Federal. “Somos ciência e seremos resistência”, dizia uma manifestante em Belo Horizonte; “Educação é direito, não é mercadoria”, dizia outra em Maceió.

Já presenciamos muitas manifestações para defender a educação ao longo de nossa ainda curta democracia, mas esta teve uma motivação mais urgente. Desta vez, para garantir nossos direitos, não basta reivindicá-los, é preciso derrotar um inimigo. O que cortou R$ 97,5 milhões que eram destinados à implantação de escolas para a educação infantil, o que acha que um aplicativo pode substituir professores, o que bloqueia mais de R$ 2 bilhões do orçamento do Ministério da Educação destinados às universidades, o que vê mais valor nas armas do que nos livros.

De 2016 a 2021, houve uma redução de 22,1% nos gastos do governo federal com a educação. Isso representa R$ 23 bilhões a menos no setor. Números não faltam para comprovar que o atual presidente da República não quer saber de educação pública, gratuita e de qualidade. Mas as provas não estão apenas nas cifras que não chegaram às salas de aula nem nos contracheques dos trabalhadores, estão também na falta de investimentos em pesquisa e nos ataques feitos aos profissionais da educação. 

Como alguém consegue dizer que o Brasil tem excesso de professores quando há crianças sem aulas exatamente por falta de professores? Como alguém consegue dizer, no auge de uma pandemia, que os educadores eram contra aulas presenciais porque não queriam trabalhar? Como? Com muito ódio aos trabalhadores e desprezo aos alunos e toda a comunidade escolar que sonha com um Brasil melhor. É assim que Bolsonaro trata a educação. 

É mentira em cima de mentira. Assim, ele tenta jogar para debaixo do tapete escândalos de seu governo. Mas não há tapete que esconda tanta sujeira, como  um áudio do ex-ministro Milton Ribeiro dizendo que o governo prioriza liberação de verbas a prefeituras ligadas a pastores que resultou na denúncia de corrupção e tráfico de influências que envolvia até barras de ouro em trocas de favores.

Bolsonaro nunca soube e parece que nunca vai saber que educação é instrumento para emancipação humana, que precisa ser pública, gratuita, de qualidade, democrática, laica, inclusiva, socialmente referenciada, solidária e com respeito à diversidade. Sabemos que ele odeia isso tudo e por isso quer derrotar a educação, mas é a educação quem vai derrotá-lo nas urnas.

*Tarcísio Motta é professor licenciado do Colégio Pedro II, vereador no Rio de Janeiro, deputado federal eleito pelo PSOL-RJ

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum