Meu nome é Luiz Eduardo Soares, tenho 68 anos e dediquei minha vida à segurança pública. Acho que é meu dever alertar os conservadores de boa vontade para o fato de que nosso país corre o risco de ser entregue, definitivamente, ao crime organizado.
Hoje, o país flerta com o crime, mas em um eventual segundo mandato de Bolsonaro, o que foi ensaiado, será colocado em prática sem restrições. As polícias serão liberadas para matar, por meio do “excludente de ilicitude” e de outras medidas semelhantes.
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Além de aumentar o número de mortes provocadas por ações policiais (suponho que esse efeito não os comova), dois fenômenos serão estimulados: em primeiro lugar, a negociação com criminosos (porque quem está livre para matar pode negociar a sobrevivência do suspeito), ou seja, haverá mais corrupção e mais promiscuidade entre polícia e crime, o que tornará a polícia cada vez mais fraca e incapaz; em segundo lugar, dois princípios essenciais às polícias, sobretudo às instituições militares, serão afetados: a disciplina e a hierarquia.
Autorizando o policial na ponta a agir sem controle, estará aberto o caminho para que grupos de suboficiais ganhem autonomia, fortaleçam práticas milicianas e ajam com independência dos comandos.
Assim como a tortura fez explodir a insubordinação nas Forças Armadas, durante a ditadura, criando grupos refratários à hierarquia, dos quais Bolsonaro fez parte, haverá no Brasil uma explosão de “brigadas patrióticas”, com discurso bolsonarista, pseudopolítico, e práticas de extorsão miliciana e de chantagem ao que restar de institucionalidade.
A insurgência contra a hierarquia contagiará as Forças Armadas como uma epidemia. Essa anarquia armada, que nada tem a ver com utopias libertárias, nem com o império da lei, fará muita gente sentir saudades dos generais que hoje se relacionam mal com a Constituição e a democracia, mas mantêm a ordem na caserna e sinalizam limites às polícias.
O segundo mandato de Bolsonaro será o passaporte para o fim da hierarquia e para a desordem nas instituições da ordem, e tudo que hoje está mal vai piorar, acelerando a degradação da sociedade. Portanto, atenção conservadores, votar em Bolsonaro é abrir as portas para o caos e o fim da autoridade. Só restará a força. E a força do caos armado é o crime, não são as instituições militares.
*Luiz Eduardo Soares é antropólogo, cientista político, escritor e ex-secretário nacional de Segurança Pública.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum.