"Fakear" para não morrer… - Por Pedro Fávaro Jr.

Ressuscitada a facada e pelo reaparecimento do "nó nas tripas" a gente pode falar de facadas de verdade

Bolsonaro mostra cicatriz da facada sofrida ao apresentador Danilo Gentili (Reprodução)
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Por Pedro Fávaro Jr.*

Facada por definição é um golpe desferido com faca e pode ser também o ato de ferrar alguém com atos ofensivos, insultuosos, irresponsáveis, descabidos, malandros, ilegais, ladinos etc etc etc. E a facada volta à superfície. do mar das "notícias", porque o "Excelentíssimo" saiu voado de suas férias em Santa Catarina para São Paulo - depois de ignorar a maior tragédia dos últimos 35 anos no Sul Bahia, onde cidades ficaram submersas.

O voo para a capital paulista se deu em razão de outro "excelentíssimo", o famigerado "nó nas tripas" atribuído à facada do Adélio lá na campanha e sempre ressuscitado em momentos de crise, mas - e o mas é um apagador universal - que virou folclore no "Facada ou Fakeada?", produzido pelo jornalista Joaquim Carvalho para a TV 247. Assista se já não viu…

Ressuscitada a facada e pelo reaparecimento do "nó nas tripas" a gente pode falar de facadas de verdade. Só para enumerar algumas, lembremos as que CPI da Covid elencou em seu relatório principal: facadas desferidas contra os brasileiros e cuja autoria o Parlamento atribuiu ao próprio "Excelentíssimo", com ajuda de membros de sua tropa.

Destaquem-se dez, comprovadas por documentos e testemunhas ouvidas pelos senhores senadores: epidemia com resultado morte; infração de medida sanitária preventiva; charlatanismo; incitação ao crime; falsificação de documento particular; emprego irregular de verbas públicas; prevaricação; crimes contra a humanidade, nas modalidades extermínio, perseguição e outros atos desumanos; crime de responsabilidade devido à "violação de direito social" e crime de responsabilidade devido à "incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo".

Com todo respeito ao diagnóstico profissional e ao cidadão Jair, despido de toda sua arrogância, ira, violência, prepotência, autoritarismo, intolerância, misoginia, despreparo e até (quem sabe?) verdadeiramente enfermo: se existe alguém cujo intestino está completamente desobstruído nesse País, nesses últimos anos, essa pessoa é o "Excelentíssimo".

Se parte do sul da Bahia ficou sob as águas do Rio Peixe, na passagem de ano, o Brasil está, desde 2018, submerso na maior diarreia social, política e econômica vista desde 1994, com inflação disparando a dois dígitos, o dólar no espaço sideral, desemprego e violência crescentes, desprezo à saúde pública, devastação ambiental, expansão da linha da miséria etc etc etc… Parece que a escolha feita agora, de novo, foi recordar a facada para sobreviver, dar um "up" nas pesquisas. Mas de verdade, "Excelentíssimo", não vai dar: é muita merda.

Pedro Fávaro Jr. é jornalista, escritor e diácono permanente da Igreja católica

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.