Por Jean Wyllys *
Ao país que sofre de falta de memória, vou prestar mais um serviço, porque, como já citei outras vezes, contra todo mal que sofri (e ainda sofro), a minha arma é o que a memória guarda (e o que ela guarda pode ser provado com documentos).
O MBL foi uma das principais OrCrims de extrema-direita financiadas pelos partidos de direita e empresários para meterem a mão na merda e fazerem o trabalho sujo de assediar e difamar pessoas contrárias ao golpe que eles perpetrariam contra Dilma e o PT.
Ao lado da desinformação “soft” perpetrada pela imprensa comercial “séria”, que inoculava o veneno do antipetismo no corpo social, havia a desinformação hard (fake news, calúnias, fraudes) tocada pelas OrCrims da extrema-direita. Era uma combinação para criar o clima anti-PT
Os recursos discursivos e os atos para fazer principalmente a classe média (uma abominação política em quase sua totalidade) aceitar o impeachment da Dilma não podiam ficar restritos ao PT; por isso, a esquerda como um todo foi alvo deles.
A OrCrim MBL tinha passagem livre na Câmara dada pelos deputados de direita e liberdade para insultar e assediar (exatamente como o fazem agora seus parceiros de antes contra os ministros do STF e senadores da CPI do genocídio) os parlamentares antigolpe.
O ladrão, falsário e evasor de divisas Eduardo Cunha, evangélico de fachada, era o principal aliado do MBL na Câmara. Aliás a foto deles mais a fascista investigada que hoje preside a CCJ é um clássico: todos com os dedinhos para cima. Coisa de máfia.
Violando o Regimento da Câmara (ou seja, a violação das leis não começou agora, a OrCrim “Lava Jato” está aí para provar), Cunha autorizou o MBL a montar um acampamento no gramado do Congresso Nacional. O objetivo era assediar os parlamentares pelo impeachment de Dilma.
Com centenas de barracas verde e amarelas iguais, o acampamento não passava de uma farsa (apenas cinco abrigavam uns 10 fascistas), mas rendiam fotos para a imprensa antipetista e tribuna para os escroques do MBL. Vocês notam algo de semelhante com o que se passa agora?
De dentro de uma dessas barracas, um fascista disparou tiros – DISPAROU TIROS! – contra a Marcha das Mulheres Negras na Esplanada dos Ministérios. Rendeu alguma reportagem séria em algum dos jornais? Claro que não: todos estavam interessados no golpe contra Dilma, óbvio!
A OrCrim MBL – aliadíssima de primeira hora dos Bolsonaro e demais máfias que lhes apoiavam - foi uma das primeiras a difamar a memória de Marielle Franco após sua brutal execução por sicários das milícias cariocas.
Um dos escroques de nome tão bizarro quanto seu caráter posou com fuzil ao lado de Zero Três ameaçando as pessoas de esquerda: incitação à violência que jamais foi punida pelas autoridades, como todos os outros crimes da gangue disfarçada de startup.
Concluo: que ingênuos ou “desmemoriados”, como Pedro Doria, sugiram que as esquerdas deem a mão ao MBL nas manifestações do dia 12, eu até entendo: o Pedro fechou os olhos para essa violência toda, assim como outros jornalista, porque não lhe atingia e porque ele era pro-golpe.
Agora, as esquerdas que se respeitam e respeitam a memória devem traçar uma linha clara que não permita que o MBL se misture com elas e que impeça esses criminosos de lavarem suas biografias sujas para as eleições do ano que vem. A rua é livre, mas cada qual no seu quadrado!
*Jean Wyllys é jornalista, doutorando em Ciência Política na Universidade de Barcelona, pesquisador no ALARI at Hutchins Center de Harvard, escritor e ex-deputado federal.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.