De que ri a Casa Grande? – Por Normando Rodrigues

O medo deles é outro. É viver numa sociedade que os obrigue a respeitar os direitos dos pobres. E, para evitar esse cenário, são capazes de tudo

Naji Nahas, Michel Temer e e Antonio Carlos Pereira, ex-editorialista do Estadão (Reprodução)
Escrito en DEBATES el

Por Normando Rodrigues *

De que ri a Casa Grande?

Enquanto Temer se diverte em jantar de elite, a maioria dos brasileiros vai dormir sem saber se comerá no dia seguinte.

Os ricos riem, e muito, porque a fome, o desemprego e o fascismo, nunca estiveram no cardápio de suas preocupações.

O medo deles é outro. É viver numa sociedade que os obrigue a respeitar os direitos dos pobres. E, para evitar esse cenário, são capazes de tudo.

Fãs de Hitler

No domingo, 12 de setembro, a Casa Grande resolveu protestar contra o monstro que ela mesma criou.

Significativamente, as exatas mesmas vozes que insistem em “autocrítica” do PT e de Lula, foram incapazes de notar a ausência absoluta deste ingrediente na salada servida em plena avenida Paulista, e em outros logradouros.

Só se cobra coerência dos representantes da senzala. Quanto aos ciros, dorias, mandettas, moros e amoedos, ficam à vontade para lucrar  com os fornos de Auschwitz pela manhã, e à tarde se vestir de “democratas”.

Movimento Bolsonaro Light

O MBL, particularmente, agora age como se não tivesse inflado a aberração fascista, e faz “a egípcia” ante os 600 mil mortos de Bolsonaro. 

No entanto, foi o MBL que inventou a estupidez de que o “Foro de São Paulo” é de extrema-esquerda e relacionado ao narcotráfico; e foram eles que criaram a calúnia do “BNDES financiador de ditadores”, sob Lula.

Do mesmo extrato limpo e cheirosinho saíram as falácias do “kit gay” e da “ideologia de gênero”, que arrebanharam legiões de imbecis em diversas classes sociais.

Gabinete do Ódio

Eram do MBL dois empresários presos pela Polícia Civil de SP, ligados ao financiamento de notícias falsas via lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio.

E é do MBL Renan dos Santos, que passeia capital por vinte CNPJs diferentes na tentativa de sonegar impostos e encobrir o custeio de fake news. O mesmo Renan que diz em lives que “vai estuprar a Bárbara” se for barrado em boates.

Toda a estrutura de publicações inverídicas assim armada tinha um único objetivo: eleger um candidato fascista em 2018.

Farsantes

Aproveitar-se de uma mitologia construída por outras forças políticas é uma de várias outras características partilhadas entre Mussolini, Hitler e Bolsonaro.

A Itália do fim da 1° Guerra foi descrita pelo poeta Gabriele d’Annunzio na síntese farsesca “vitória mutilada”. Na Alemanha, um ano depois, o marechal Hindenburg livrou-se da responsabilidade pela derrota com a balela da “punhalada nas costas”.

Mussolini e Hitler exploraram essas ficções, do mesmo modo como Bolsonaro o fez com as invenções do MBL. E este, junto com vários “terceiraviários”, deu musculatura ao “Mito”, assim como d’Annunzio e Hindenburg fizeram com as bestas-feras precedentes.

Fascista

Alguns intelectuais de laboratório ainda negam a brutalidade de Bolsonaro. Diferente deles, a massa brasileira, faminta e desempregada, descobre na carne o que é um fascista clássico.

Bolsonaro é um fascista clássico porque reacionário, ditatorial, vulgar, anti-intelectual, irracional, e com um programa político baseado na “ação”, na corrupção, e no culto à violência e à morte.

É clássico, ainda, por só conseguir homogeneizar seu gado a partir do ódio, da misoginia, da combinação entre modernidade tecnológica e pretensão de restauração de um “passado grandioso”, e de seu desejo de se perpetuar.

Retrato

Bolsonaro queria uma imagem panorâmica e ampliada de sua massa homogeneizada, no 7 de setembro. Só obteve uma foto de passaporte. Por isso as parteiras da “terceira via”, seus cúmplices e responsáveis ainda ontem, se animaram para o dia 12.

Do dia 12 a Casa Grande queria um quadro a óleo, revelador de seu “poder de mobilização”. Prometeu até uma festa antipetista. Mas, como só encheu algumas kombis, afirmou em editorial do “Estadão” do dia 14, que a “democracia não é uma foto”. Sem alcançar as uvas, a raposa foi embora a declarar que as frutas ainda estavam verdes.

Outras mentiras, limpas e cheirosinhas, virão.

*Jorge Normando Rodrigues é assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.