Por Marcelo Buzetto*
Desde 1978, após a Revolução de Saur, quando o Afeganistão era governado pelo Partido Democrático e Popular do Afeganistão - PDPA (uma aliança entre comunistas, socialistas e patriotas afegãos), em aliança e cooperação com a URSS, os chamados “Talibãs” são aliados dos EUA!!!
O governo do PDPA iniciou uma reforma agrária, investiu em educação e saúde pública e gratuita, aprovou a lei da igualdade de direitos entre homens e mulheres, estimulou as mulheres a ingressarem nas universidades etc...
EUA, Paquistão e Arábia Saudita, com atuação direta de Osama Bin Laden, se uniram para impedir a cooperação Afeganistão-URSS, pois a influência soviética ameaçava os interesses geopolíticos estadunidenses.
Na época eram chamados de “muhajeideen”, depois de 1991 de Talibã. São os mesmos.
Foram homenageados pelo filme “Rambo 3”, chamados de “guerreiros da liberdade”.
Estiveram em Washington, na Casa Branca, recebidos por Bill Clinton, e com direito à conferência de imprensa. Firmaram um acordo com EUA para construção de um gasoduto. Como não puderam cumprir o acordo, os EUA invadiram o país em 2001, sob o pretexto de capturar Bin Laden, “encontrado”, segundo o governo Obama, em Islamabad, no Paquistão!!!!!!
Ou seja, destruíram o país e o Bin Laden não estava lá?
Talibãs fizeram acordo com Trump. Joe Biden manteve o acordo, pois viram que o Afeganistão estava se aproximando do Irã.
Um Afeganistão aliado do Irã seria, para o governo dos EUA, pior que governado pelos Talibãs.
Aí os EUA se retiram do Afeganistão e deixam os Talibãs tocarem o terror: eles tomam bases dos EUA, cheias de veículos militares abastecidos, blindados e helicópteros, armas e munições, presentes do governo Biden, sob algumas condições, é óbvio.
A Embaixada dos EUA em Cabul, a capital, com 650 soldados, está intocada, por ordem dos Talibãs. Repito, os Talibãs, considerados por alguns como radicais, contra o Ocidente, blá, blá, blá, tomam o poder na capital e não atacam o principal símbolo do imperialismo, o principal símbolo da ocupação militar feita pelo ocidente, a Embaixada dos EUA, e o governo Biden deixa lá seus diplomatas com 650 soldados. Biden está tranquilo, pois tem a promessa dos Talibãs que não vão tocar na Embaixada nem em nenhum cidadão estadunidense.
Milícias populares no Afeganistão combatiam as tropas dos EUA e os Talibãs, ao mesmo tempo.
Talibãs fizeram acordo com EUA para impedir acordos de cooperação com Irã.
Os Talibãs continuarão servindo aos interesses dos EUA, Inglaterra, Arábia Saudita e Paquistão?
Ou vão mudar de posição? A realidade e a geopolítica podem levar a mudanças? Sim. Mas é preciso cautela. Vamos acompanhar.
Que o povo do Afeganistão possa construir seu próprio caminho de desenvolvimento econômico, social, político e cultural, sem colonialismo nem imperialismo, nem invasões militares dos EUA/OTAN.
*Marcelo Buzetto é pós-doutorando em Política Internacional, doutor em Ciências Sociais, professor, coordenador do Núcleo de Estudos Gamal Abdel Nasser, membro do Comitê do Grande ABC/SP de Solidariedade ao Povo Palestino, da Campanha Global pelo Direito ao Retorno à Palestina.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum