Por Normando Rodrigues *
Genocida condenado
Ainda não foi a vez do Mito, mas sim a de Ratko Mladi?, antigo comandante bósnio-sérvio responsável pelo extermínio de cerca de oito mil muçulmanos no massacre de Srebrenica, em 1995.
O general recorria da pena de prisão perpétua aplicada em 2017 pelo Tribunal de Guerra da ONU para a Bósnia, mesma corte que ontem (8) confirmou a sentença.
Oficial de carreira com 31 anos de serviços à antiga Iugoslávia, e depois à Sérvia, Mladi? foi levado ao genocídio pelo preconceito e pelo ódio, o que demanda uma reflexão sobre o ensino militar, em geral, e a doutrinação ideológica, em particular.
Reacionários e conservadores
A parte reacionária dos nossos soldados concebe o mundo extracaserna como um caos decadente e cheio de inimigos. O Brasil ideal é o de um passado não vivido, do qual “ouviram falar”, sem críticas ou análises.
Já os conservadores acreditam que a abissal desigualdade social brasileira deva ser mantida a qualquer preço. É o sistema de valores do “manda quem pode”, e do “sabe com quem está falando?”
Uns e outros se irmanam com o fascismo no ódio à esquerda e a quem mais ousar desafiar nossa escravagista hierarquia de classes. E são “adestrados” neste ódio.
Juramento
Ao contrário desses credos, nossa Constituição é o programa ideológico de um estado democrático...
“... destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos.”
Mas isso pouco importa, porque em lugar de jurar “apoiar e defender a Constituição”, como fazem seus equivalentes dos EUA, nossos milicos juram “morrer pela pátria e viver sem razão”, do mesmo modo que há meio século Geraldo Vandré cantou.
Hitler
O juramento profissional descompromissado da constituição é só um pequeno traço de um mundo próprio, que oferta à História uma série de atos muito mais graves.
Corrupção, remuneração acima do teto constitucional, torturas e assassinatos, são os grandes feitos dos militares brasileiros, que agora acrescentaram à lista o genocídio.
Genocídio pelo qual os camuflados não querem que Pazuello seja responsabilizado. E, impune pelo mais, impune pelo menos, seria de todo contraditório que punissem o general por subir no palanque de nosso Hitler.
Até porque o Exército já embarcou nesse “carro de som” há muito tempo!
*Jorge Normando Rodrigues é assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.