Por Gabriel do Nascimento *
A desaceleração das atividades econômicas causada pela pandemia do novo coronavírus contribuiu para uma redução evidente do nível de CO2 em escala global. Dados da IEA, a Agência Internacional de Energia, comprovam uma diminuição de 6% na emissão dos gases, se consolidando como uma das menores taxas já registradas nas últimas décadas. Entretanto, pesquisadores afirmam que ainda não há grandes motivos para se comemorar. Com a promessa das vacinas chegando à porta, diversos setores econômicos e industriais já estão retomando as atividades de maneira lenta e gradual a fim de manter o mesmo ritmo de produção nos períodos pré-pandemia. Com isso, uma pauta preocupante retorna ao epicentro dos debates: o meio ambiente.
Primeiramente, deve-se atentar ao fato de que as diminuições de CO2 registradas ao longo da pandemia foram ocasionadas pelo baixo fluxo das atividades humanas através do isolamento social, não mantendo, assim, relação alguma com os hábitos de consumo ou mudanças na mentalidade popular. E é neste ponto que o problema persiste. Por se tratar de uma situação passageira, é inviável associar o impacto do coronavírus com uma promessa futura de reconciliação com a natureza. Para que a mudança ambiental ocorra de fato, faz-se necessário a união de políticas públicas que caminhem em conjunto com a responsabilidade social.
De acordo com a ONG WWF (Fundo Mundial para a Natureza), estima-se que a população mundial consuma 30% acima das capacidades de reposição fornecidas pelos recursos naturais, o que impacta diretamente no aumento da produção de lixo orgânico e no crescimento do desmatamento, resultando então na intensificação do aquecimento global, responsável por provocar mudanças climáticas extremas e repentinas. Para frear as rédeas do consumismo exacerbado, está mais do que claro que as atitudes cotidianas devem ser repensadas de maneira a amenizar o impacto individual causado ao meio ambiente. A substituição de carros por caminhadas ou transporte coletivos, a preferência por produtos industriais que reforcem o compromisso com a natureza e até mesmo a redução do consumo de carne são algumas das muitas maneiras de implementar uma cultura sustentável que visa ao bem-estar humano e à integridade dos recursos naturais.
Para promover a igualdade e a justiça dentro dos limites sustentáveis, a esfera política também deve cumprir sua parcela de responsabilidade quanto às questões ambientais. Segundo o Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), o número de queimadas em território nacional aumentou em 34,5% entre agosto de 2019 e julho de 2020. Esses dados alarmantes refletem uma triste realidade da política atual: há uma necessidade de leis que assegurem mutuamente a integridade do meio ambiente e a estabilidade econômica industrial. Para que isto ocorra, será necessária a adoção de políticas que beneficiem e incentivem os pequenos e grandes detentores de indústrias a optarem por meios sustentáveis de produção e comercialização. A biomimética, ciência que estuda estruturas biológicas para aplicar em campos do desenvolvimento humano, mostra-se como uma aliada viável e lucrativa nesta jornada ao permitir a criação de materiais sintéticos semelhantes aos de origem natural a fim de auxiliar em ramos diversificados, como a arquitetura, o design, a logística, etc. De acordo com a ambientalista Ana Beatriz Prudente, o conceito da biomimética não se baseia em “utilizar os recursos naturais para produzir, mas imitar a natureza para elaborar soluções viáveis para desafios complexos do mundo moderno”, beneficiando assim vários contingentes sociais atrelados.
Como alternativa a longo prazo para a preservação do meio ambiente, é preciso cuidar para que o analfabetismo ambiental seja combatido nas gerações futuras. Grades curriculares sem a presença da importância do meio ambiente e dos impactos do aquecimento global não são mais bem-vindas nos dias atuais tendo em vista que, se o consumismo e a devastação ambiental não amenizarem com o passar do tempo, a presença de recursos indispensáveis para o ser humano, como a água potável e o ar limpo, se tornará cada vez mais escassa. Tal configuração educativa também contribui para que homens e mulheres das próximas gerações adquiram consciência de como um aumento na conta de luz, por exemplo, pode ser fruto das consequências humanas para com o meio ambiente.
Com isso é possível vislumbrar não apenas a importância de somente preservar e respeitar a natureza, mas também a importância de garantir que todos os recursos individuais, das esferas públicas e privadas se voltem para uma solução imediata que preze a integridade da humanidade enquanto a mesma estiver sob os cuidados do planeta Terra. É necessário que os governos façam planos e elaborem medidas ecológicas seguras, e é mais necessário ainda que a população cobre esse retorno por parte dos órgãos responsáveis; pois, parafraseando a ativista Greta Thunberg, fazer o nosso melhor já não é mais o suficiente, é hora de se rebelar.
*Gabriel Victor Gonçalves do Nascimento é jornalista e pesquisador nível II no Escritório Ana Beatriz Prudente –Sustentabilidade, Branding & TI
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.