Por Normando Rodrigues *
Lá e cá
Lá, o equivalente à Ordem dos Advogados suspendeu a licença profissional do ex-prefeito Rudy Giuliani (1994-2001), por lançar declarações “falsas e enganosas” contra as eleições presidenciais de 2020.
Giuliani advogava para o golpista Donald Trump.
Cá, tanto a OAB como os conselhos de magistrados e do Ministério Público permanecem em eloquente silêncio quanto a advogados, juízes e procuradores golpistas.
Golpistas
Agora até o presidente do Supremo prega abertamente golpe de estado, não obstante solenes juramentos antifascistas. E seguem todos impunes, como no caso exemplar do genocida do Planalto, que comete mais de um crime por dia.
Lá, derrotados nas urnas e no golpe de 6 de janeiro, Trump e os republicanos resolveram mudar as leis eleitorais estaduais, para dificultar o voto de pobres e negros.
Cá, Bolsonaro sabe que perderá em 22 e pretende a auditagem com voto impresso, para fraudar o resultado do voto eletrônico.
Reações
Lá, a 22 de junho, os Democratas perderam no Senado uma tentativa de lei para federalizar um mínimo procedimento eleitoral decente. Agora, foram à Suprema Corte (onde os conservadores têm 6 dos 9 juízes) para tentar impedir as novas leis eleitorais restritivas.
Cá, no dia 26 de junho, ante o perigo da perpetuação fascista, 11 partidos se uniram a ministros do STF para impedir o golpe do voto impresso.
Lá, dia 16, ao menos a Câmara aprovou o feriado nacional de 19 de junho, dia da Independência Negra. Cá, Bolsonaro e o presidente da Fundação Palmares são contra o feriado de Zumbi, como se o “Quilombo dos Palmares” significasse outra coisa.
Racismo
Lá, a 25 de junho, o policial que asfixiou George Floyd tomou 22 anos de cadeia. Cá, o negro que andou de bicicleta elétrica no Leblon foi chamado de ladrão, provou ter comprado e passou a ser investigado por receptação.
Lá, as cotas étnicas têm mais de 50 anos. Cá, teremos a revisão da Lei de Cotas, nos seus 10 anos, em cenário de franco retrocesso, no qual ser racista dá cargo no governo.
Lá, em 11 de abril, tentaram lançar o White Lives Matter, em frente à Trump Tower, em Nova Iorque. Brocharam. Cá, em 12 de junho, o “imbrochável” reuniu seu gado no monumento aos bandeirantes escravistas.
Vacina
Lá, como cá, reacionários e fascistas gritam para que pretos e pobres não se vacinem, enquanto se vacinam às escondidas.
Há 2 semanas, num comício de Trump, senadores e apoiadores golpistas, vacinados, foram hostilizados por golpistas não vacinados, o que explica o sigilo imposto ao cartão de vacinação de Bolsonaro.
CPI
Cá, um ex-governador afirmou que certa testemunha foi coagida pelo suspeito Moro para afastar o clã Bolsonaro do assassinato da vereadora Marielle.
Depois, um deputado denunciou o crime de prevaricação, ante corrupção na compra de vacinas.
Até aí fatos gravíssimos, mas nada originais. A “jabuticaba” está na resposta do governo às denúncias, típica de gangsters.
Sem pudores
No dia 16 de junho o filho do Mito, senador Flávio, intimidou ostensivamente o depoente em plena sessão da CPI, transmitida ao vivo. Em 23 foi a vez de Onyx Lorenzoni, ministro do capo Bolsonaro, que ameaçou o deputado denunciante em coletiva de imprensa.
Não há nada de parecido nas CPIs dos gringos, do macarthismo a Watergate, passando pela da máfia. No entanto, a retratação ficcional desta última comissão americana pode servir para uma comparação didática.
Em “O Poderoso Chefão 2”, de Coppola (1974), o subordinado Frankie Pentangeli (Michael V. Gazzo) está prestes a depor à CPI sobre a família Corleone, quando o chefão Michael entra na sala acompanhado do irmão do depoente.
Bandidos
Diferentemente das bravatas infantis do senador, e da intimidação explícita do ministro, Michael Corleone foi eficaz sem abrir a boca.
Claro, nem Flávio, o mimado da rachadinha, nem Onyx, propinado pela JBS, se comparam ao personagem interpretado por Al Pacino, seja em inteligência, ou muito menos em elegância.
Apesar disso, lá, como cá, trata-se pura e simplesmente de “bandidagem”.
*Jorge Normando Rodrigues é assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.