Por Felipe Demier *
No cenário de crise de hegemonia permanente, marcado pelo embate entre as vacilantes instituições liberais do regime democrático-blindado e um governo relativamente autônomo de inclinações bonapartistas e jaez neofascista, a classe dominante brasileira parece ser conduzida, nas próximas eleições, a tal "escolha muito difícil" (como seus ideólogos midiáticos, adulterando cinicamente o conceito de simetria, que definem a opção de seus patrões entre o moderado petismo e o extremismo fascista de Bolsonaro).
A única chance de os setores mais tradicionais e orgânicos da burguesia conseguirem levar um candidato propriamente "seu”, um representante direto e imediato dos seus interesses ultraneoliberais – mas sem o teor neofascista – ao segundo turno da eleição presidencial parece ser evitar que Bolsonaro possa dela participar. Assim, por ora, pode-se dizer que a única forma da nossa alta e semi-ilustrada burguesia derrotar o candidato petista nas urnas diretamente – e não indiretamente, como fez em 2018 – é retirar o embrutecido, lúmpen e indomável genocida do poder – interrompendo, assim, ainda que tardiamente, o genocídio do qual ela mesma é diretamente responsável, tanto pelas suas ações no passado quanto pela sua inação no presente.
No segundo turno de 2018, a classe dominante tradicional teve a ilusão de que poderia, a partir do janeiro seguinte, domesticar o animal xucro, esquecendo-se do alerta balzaquiano de que "lá onde começa a ambição, cessam os sentimentos ingênuos". Repetir o mesmo erro seria produzir uma nova farsa, uma farsa da farsa, uma farsa trágica e ainda mais cruenta, destrutiva e infernal. Em uma palavra, se a Casa Grande quiser ter a chance de vencer, ela mesma, Lula no segundo turno, precisa ajudar a esquerda, os trabalhadores e oprimidos a derrubarem Bolsonaro.
E agora, Faria Lima?
*Felipe Demier é historiador e professor da Faculdade de Serviço Social da UERJ.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.