Por Normando Rodrigues *
Quem "queima" livros na Fundação Palmares é também capaz de "queimar" a natureza, e a todos nós, com a mesma facilidade.
Fogo!
Na iconografia ocidental, “fogo” e “luz” nem sempre estão do mesmo lado. Não raro, são inimigos.
A “luz” está associada à “razão” e à sabedoria desde a deusa Atena, a que enxerga o que os outros não veem; enquanto o “fogo” purifica a sociedade com a eliminação dos “inimigos”, sejam livros ou pessoas.
Em maio e junho de 1933 o fascismo alemão “purificou” em piras rituais centenas de milhares de livros. Agora é a vez dos fascistas da Fundação Palmares.
Naturicídio
Dentre os condenados está o “Dicionário do Folclore Brasileiro” de Câmara Cascudo, autor culpado por ter ensinado Dilma a valorizar a cultura da mandioca, de nossos indígenas. Os golpistas preferiram rir e os fascistas trataram a mandioca como tema proibido. Para estes últimos, o que importa é “tora”, não mandioca.
Sob Bolsonaro, o item de exportação do “agronegócio” que mais cresceu, em volume e em lucro, em 2020, foi a MADEIRA. Os “patriotas” assassinam a natureza com fogo, tratores e correntes, e com os venenos do agronegócio. E os “Salles” lucram.
Lucro auferido com orgulho empresarial. No dia 12 de junho, 12 mil motos presentearam a cidade São Paulo com uma enorme distribuição de vírus. Sobre uma das máquinas, um casal de empresários disse estar ali porque eram “patriotas”.
“Patriotas”
O apartheid entre os “patriotas” - que entregam a Petrobrás, a Eletrobrás, e a ECT - e os “outros”, é pressuposto do ódio fascista que sempre atuou contra “esquerdistas”, e que hoje mata negros, índios e pobres, como antes matava judeus.
A fogueira medieval que assava judeus e hereges já esteve representada nos fornos de Auschwitz e agora não só queima a floresta como tem versões motorizadas, no varejo:
- a polícia arrasta o "inimigo" para dentro de um veículo e lá o executa à queima roupa. É mais fácil para depois remover o corpo.
Extermínio
Nossos fascistas declararam em reunião ministerial odiar os povos indígenas, que morrem junto com a floresta. A pandemia de Covid matou lideranças históricas, como Carlos Terena e Aritana Yawalapiti. Mas a tragédia é maior.
O cerco da soja e o assalto do garimpo, nas terras Yanomami, assassinam indígenas há meses, sob o olhar complacente de Bolsonaro. E a desnutrição infantil naquela nação chegou a níveis desesperadores.
Crianças Yanomami são literalmente pele e ossos, como os esqueletos-vivos encontrados na libertação dos campos de extermínio nazistas. Mas não são fotos de 1945. São de hoje, na comunidade do Alto Catrimani, em Roraima.
O holocausto é aqui.
*Jorge Normando Rodrigues é assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.