**ESTE ARTIGO NÃO REFLETE, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DA REVISTA FÓRUM.
Por Normando Rodrigues *
Tempos cruzados
O fascismo é anacrônico desde o nascimento, na Milão de 1919. Renega o presente, e pretende um futuro retrógrado a partir de um passado idealizado, que nunca existiu.
O monstro é, no entanto, um fenômeno de massa com densidade suficiente para causar distorções no contínuo espaço-temporal.
Tudo começou com a reação da direita, contra o crescimento da igualdade.
Reação
Era visível que a resposta bestial, iniciada já em 2005, faria a cadela do fascismo parir um Bolsonaro, o que por sua vez nos atiraria na polarização das décadas de 1920 e de 1930.
Agora as confusões temporais se multiplicam e banalizam. É preciso estar atento, porque o "tempo" não é mais linear.
Há apenas um mês o Senado abriu a fase preliminar do nosso “Tribunal de Nurembergue”, dedicado à apuração de responsabilidades pelo genocídio, e assim entramos no verão europeu de 1945.
Nurembergue
Em resposta, o Füher reuniu adeptos e cumprimentou a multidão, despido de máscaras em todos os sentidos, em frente ao palácio de governo. Brasília em 30 de abril de 2021, ou Berlim em julho de 1937?
Daí o ex-ministro das Relações Exteriores diz jamais ter agredido a China. É que não era Ernesto Araújo. Quem falava mansinho com Renan Calheiros era seu gêmeo Ribbentrop, perante o tribunal dos aliados, em abril de 1946.
O Duce reage e convoca manifestações do “agronegócio”. É a “Batalha do Trigo”, na Itália de 1925. Notável diferença, o tratoraço de Bolsonaro trouxe ao brasileiro destruição ambiental e fome. Nada de pão, só circo.
Robusto
Mas a estrela do julgamento - na impossibilidade de se trazer o próprio Mito -, é o ministro mais robustamente ligado à mortandade.
Estamos em março de 1946 e Hermann Göring, o n° 2 de Hitler, afirma que fez testagens em massa para combater a pandemia, como todo o Brasil sabe.
No domingo seguinte o mesmo Pazuello, ministro do Reich, se junta ao Duce na cavalgada de motocicletas, movimento que atropela 450 mil mortos. Estamos na Roma de junho de 1933.
Posto de gasolina
Contudo, como até mesmo nessa barafunda espaço-temporal as motos demandam combustível, todos os caminhos do labirinto levam ao posto de gasolina do Largo do Loreto, na Milão de 28 de abril de 1945.
O atual ciclo fascista terminará outra vez com o corpo de Mussolini pendurado pelos pés, literal ou metaforicamente. Meses depois, no nosso “futuro” 1945, não se encontrará quem tenha votado no Duce, no Füher, ou no Mito.
Todos dirão que votaram em Amoedo.
*Jorge Normando Rodrigues é assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.