Por Marcos Danhoni *
Um investigador tem de basear-se em fatos e não em lendas.
(Sherlock Holmes, Sir Conan Doyle)
Na semana passada a mídia corporativa noticiou que o Ministério da Saúde havia eliminado documento que indicava o inócuo “tratamento precoce” à base de cloroquina e hidroxicloroquina. Uma das manchetes era “Queima de Cloroquina pré-CPI”, na Piauí/UOL. A manchete demonstra claramente o teor criminoso do desgoverno Bolsonaro em tentar esconder algo que é do conhecimento até do reino mineral, como diria o falecido Paulo Henrique Amorim.
Aliás, o movimento de destruição de provas é de amplo espectro devido à inauguração dos trabalhos da CPI DO GENOCÍDIO. Vai dos vídeos criminosos do pseudojornalista Alexandre Garcia, de sua colega de discurso de ódio, Leda Nagle, até os mais recônditos e obscuros nichos da blogosfera de fake news do bolsonarismo.
Há alguns meses vinha acompanhando a página do Ministério da Saúde e sabia da existência de um documento em PDF sobre o “tratamento precoce”. Porém, alertado pela notícia da queima de provas, voltei a consultar a página do MS. Bingo! A informação era de que a página não existia mais (imagem abaixo).
Porém, hoje, ao consultar novamente a mesma página, a informação é outra: ESTA PÁGINA ESTÁ EM ATUALIZAÇÃO (imagem abaixo). A página era: https://www.gov.br/saude/pt-br/media/pdf/2021/marco/08/covid-05mar2021-11h37.pdf
Estas duas informações mostram movimentos criminosos decisivos no sentido de esconder provas e/ou adulterá-las!
Com a queima de arquivo realizado, usei um motor de pesquisa de páginas web mortas e pude recuperar o documento que o Ministério da Saúde e o desgoverno Bolsonaro tentaram destruir.
O documento pode ser lido agora na seguinte URL:
O título do documento é pomposo: ORIENTAÇÕES DO MINISTÉRIO DA SAÚDE PARA O MANUSEIO MEDICAMENTOSO PRECOCE DE PACIENTES COM DIAGNÓSTICO DA COVID-19 (imagem abaixo)
O documento de 40 páginas apresenta 74 menções à cloroquina e hidroxicloroquina (imagem abaixo).
Os “Considerandos” iniciais do documento são assustadores e partem de premissas ou muito frágeis e, muito frequentemente, falsas! Exemplo:
4. Considerando que até o momento não existem evidências científicas robustas que possibilitem a indicação de terapia farmacológica específica para a COVID-19;
5. Considerando que a manutenção do acompanhamento da comunidade científica dos resultados de estudos com medicamentos é de extrema relevância para atualizar periodicamente as orientações para o tratamento da COVID-19;
(...)
7. Considerando que alguns Estados, Municípios e hospitais da rede privada já estabeleceram protocolos próprios de uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para tratamento da COVID-19;
8. Considerando a necessidade de uniformização da informação para os profissionais da saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS);
9. Considerando a existência de diversos estudos sobre o tratamento da COVID-19;
10. Considerando a larga experiência do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento de outras doenças infecciosas e de doenças crônicas no âmbito do SUS e a inexistência, até o momento, de outro tratamento eficaz disponível para a COVID-19;
11. Considerando a necessidade de orientar o uso de fármacos notratamento [sic] precoce da COVID-19, no âmbito do SUS pelos médicos;
Além deste documento “queimado” pelo MS, havia uma outra ação similar ocorrendo, e igualmente criminosa: a retirada de menções do aplicativo TrateCOV no Ministério da Saúde. Este movimento foi noticiado também pela mídia corporativa. De fato, as menções a este aplicativo claramente fajuto, posto que caía sempre numa conclusão óbvia – uso de cloroquina – qualquer que fosse a variável de entrada (sintomas iniciais, idade, etc.), começaram a ser apagadas ou reescritas pelos crimes em série praticados contra uma população que foi distanciada de qualquer possibilidade de evitar a doença ou se proteger dela: lockdown, máscaras, kit intubação, respiradores, publicidade didática sobre a epidemia, vacinas.
Como este desgoverno não consegue esconder os crimes que pratica, apesar do TrateCOV ter sido retirado da página do Ministério da Saúde, ele ainda é referido nas páginas da Casa Civil, como pode ser visto em:
Usando novamente o motor de pesquisa que resgata páginas "mortas", consegui resgatar essa página do TRATECOV no MS, que reproduzo abaixo:
O trabalho de arqueologia na internet é muito interessante pois mapeia documentos incriminadores e identifica as ações espaço-temporais tomadas para tentar se esconder a verdade. Para terminar com Sherlock Holmes: “O mundo está cheio de coisas óbvias que ninguém jamais observa”!
*Marcos Cesar Danhoni Neves é professor titular da Universidade Estadual de Maringá e autor do livro “Lições da Escuridão”, entre outras obras.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.