Por Mário Maurici *
Após uma onda de adoções no início da pandemia, o abandono de animais domésticos no Brasil disparou 70%, de acordo com levantamento da Ampara Animal. São milhares de cães e gatos, principalmente, que conheceram um lar, mas acabaram nas ruas, seja por dificuldades financeiras ou arrependimento dos tutores.
Muitos dos bichos abandonados também são vítimas de maus-tratos ou acidentes, como atropelamentos, envenenamentos e atos sádicos. Para conscientizar a população a respeito desta triste realidade que desde o ano passado se faz mais evidente, criei o projeto do Dezembro Verde, que agora é lei no estado de São Paulo.
A data, que já é uma marca da causa animal, agora pode ganhar mais força com o apoio do poder público. Em um mês inteiro de ações educativas, a exemplo do que acontece no Outubro Rosa, vamos estimular a posse responsável, apoiar mutirões de castração, feiras de adoção e o essencial trabalho das ONGs e protetores de SP.
Um bichinho de estimação é apenas uma parte de nossa vida, mas podemos participar da vida inteira dele. Abandoná-lo porque faz muita bagunça, se queremos viajar nas férias, ou quando está velho ou doente e mais precisa de cuidados, é um ato de extrema crueldade. Uma vida não é um brinquedo que podemos jogar fora ao cansar.
Abandonar e maltratar animais é, inclusive, um crime previsto na legislação federal, que pode dar até cinco anos de reclusão. Precisamos combater a impunidade. Qualquer um pode denuncia, pelo Disque Denúncia Animal (São Paulo e Grande São Paulo), no 0800 600 6428, ou pela Delegacia Eletrônica de Proteção Animal – Depa (Estado todo), no site www.ssp.sp.gov.br/depa.
Num momento em que as necessidades humanas foram potencializadas, em que lutamos pela nossa própria sobrevivência, não podemos virar as costas para as espécies com as quais dividimos o planeta. Essa é uma das mais importantes lições da pandemia: precisamos cuidar melhor da Terra e respeitar os animais e a natureza. Nenhum ser é inferior ao outro; todos estamos conectados.
"Não existe direito à vida em nenhuma sociedade hoje em dia. Criamos animais para a matança; destruímos florestas; poluímos rios e lagos até que os peixes não possam mais viver lá; matamos veados e alces por esporte, leopardos por suas peles e baleias para fabricar fertilizantes; encurralamos golfinhos, ofegantes e se contorcendo, em grandes redes de pesca; matamos filhotes de focas a pauladas; provocamos a extinção de uma espécie a cada dia. Todos esses animais e vegetais estão tão vivos como nós. O que é (alegadamente) protegido não é a vida, mas sim a vida humana". Essas palavras foram ditas nos anos 90, pelo cientista Carl Sagan, e seguem mais atuais do que nunca. Bichos sentem dor, fome, frio e sofrem, assim como eu e você.
Em um país em que cerca de metade dos lares tem um pet, configurando famílias multiespécie, nossos governos precisam desenvolver políticas públicas estruturadas, focadas na causa animal. E é claro que isso não significa deixar de lado a causa humana e todas as suas mazelas – uma luta não exclui a outra.
O direito à vida passa também pelas pessoas invisíveis, que diariamente morrem de fome, desidratação, doenças e negligência – males que poderiam ser evitados pela atuação do poder público e empatia das sociedades.
Na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), temos batalhado diariamente pelo direito a uma vida digna, em diversos projetos e votações em caráter de urgência. Na semana passada, meu PL 146/2020, em parceria com a deputada Leci Brandão (PCdoB) e o deputado Dr. Jorge do Carmo (PT), também foi aprovado. Ele impede despejos, remoções e reintegrações de posse durante a pandemia, garantindo que as pessoas não percam o teto em um momento tão delicado.
Também fiz diversas indicações solicitando a vacinação de trabalhadores essenciais para o nosso dia a dia, como os da educação, da segurança pública e privada, da limpeza pública e dos hospitais, do Metrô e da CPTM. Alguns desses pedidos já foram atendidos pelo governador. No ano mais desafiador de nossa História, ainda há um longo caminho a ser percorrido para a concretização dos direitos, seja dos homens ou dos animais. Mas ninguém solta a mão – nem a pata – de ninguém.
*Mário Maurici é deputado estadual pelo PT-SP, foi vice-presidente da EBC, vereador, prefeito de Franco da Rocha, presidente da Ceagesp e secretário de governo e de comunicação de Santo André.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.