Por Kerison Lopes *
O 25 de Abril é histórico para os comunistas. Desde aquele 1974, quando Portugal fez nascer a sua poética rebelião. Construída por militares e o “povo unido” que venceram as forças fascistas no poder havia quatro décadas.
Uma revolta que tinha armas para se impor pela força do fogo, mas ficou para a História como a Revolução dos Cravos. Que deixou como hino não uma marcha militar, mas a poesia de Zeca Afonso com sua “Grândola, Vila Morena”.
A canção entrou para a História ao ser escolhida pelos revolucionários como senha para sair dos quartéis em direção à liberdade. À meia-noite e vinte minutos, a Rádio Renascença soou em suas ondas a música como senha de que chegara a hora de derrotar o fascismo.
Seus versos encheram o país de sonhos e coragem. "Grândola, Vila Morena, terra de fraternidade. O povo é quem mais ordena, dentro de ti, ó cidade. Em cada esquina um amigo. Em cada rosto a igualdade.”
Grândola conseguiu anos antes passar pela rigorosa censura. Onde os fascistas viram uma canção, o país encontrou um hino. Marcharam com ela os soldados e o povo pelas ruas de Lisboa, impedindo a reação das tropas leais ao governo de Marcelo Caetano, que substituiu no comando fascista António de Oliveira Salazar.
Posicionados para o embate armado, entra na história Celeste Caeiro, uma jovem operária que ficara sabendo da revolução apenas naquele dia. Era funcionária de um restaurante que comemoraria seu aniversário, por isso estava cheio de cravos para a festa. O estabelecimento ficou fechado em função da Revolução e Celeste levou consigo as flores.
Com eles na sacola, foi espiar o que seria a tal revolução, quando um soldado do alto de um tanque pediu-lhe um cigarro. Como ela só tinha consigo as flores, resolveu presentear com um cravo.
O gesto fez o soldado abaixar-se, pegando o cravo para colocar na ponta do fuzil. Chamou assim a atenção dos companheiros de farda, que também receberam o regalo. Dali pra frente, a centelha florida incendiou. Floristas já estavam distribuindo cravos por toda Portugal.
Nasceu assim a Revolução dos Cravos, que levou democracia e justiça social para Portugal e inspirou para o mundo a rebelião mais poética de todos os tempos.
*Kerison Lopes é presidente da Casa do Jornalista de Minas Gerais, ex-presidente da UBES e do Sindicato dos Jornalistas e fundador do Bloco Volta Belchior.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.