*Por Jorge Normando Rodrigues
Dizia Rousseau que é preciso experimentar a dor para conhecer a ternura da humanidade. Pois lhes apresento brasileiros imunes à dor, os 30% de “jairinhos” que carregamos.
Ante o maior genocídio de nossa História, o exército de jairinhos foi destemidamente às ruas com as “marchas da parentada” a favor do presidente jairinho e de seus filhos jairinhos.
Os jairinhos são todos gente de bem. Vão à igreja, defendem a família e frequentam prostíbulos. Apenas quando um garoto de quatro anos perturba é que os jairinhos são “obrigados” a espancar até a morte.
Plebe
Os jairinhos querem para seus “colaboradores” – tipo a cozinheira da Ivete – a “liberdade” de ir trabalhar. Natural. Com um desemprego tão brutal quanto o fascismo, se a mucama intuba é fácil substituir.
O IBGE conta que 49% dos intubados são trabalhadores da limpeza. Contudo, não é por culpa dos jairinhos que a ralé morre mais, em números absolutos e relativos. É que a elite é limpinha e cheirosinha por natureza.
Por lembrar da elite, grandes empresários jairinhos reuniram-se com o presidente jairinho para jantar o povo brasileiro. E, claro, além do prato principal de mais de 350 mil corpos, serviram-se de negócios.
Carnificina
Mortandade é oportunidade! 20 brasileiros bilionários ficaram ainda mais ricos desde o início da pandemia, três deles na saúde privada.
Qual o termo correto para quem faz fortuna com a falta de leitos, de oxigênio e de respiradores? Apesar de adjetivos mais apropriados, por agora basta “jairinho”.
Na mesma noite do macabro regabofe dos jairinhos – capaz de enrubescer os personagens de “O discreto charme da burguesia”, de Buñuel – no andar de baixo 116 milhões de brasileiros iam dormir sem saber se comeriam no dia seguinte.
Lucidez
Não me entendam mal. Os jairinhos se importam com a fome! Até dão de comer aos pobres, embora com menos frequência do que alimentam seus cães e gatos.
Imbuído desse espírito fraterno, o presidente jairinho foi mais uma vez aglomerar sem máscara. Preferiria torturar e matar o senador Randolfe, mas teve que se contentar com o frango assado da feirinha de periferia, em Brasília.
E foi lá que ela surgiu. Em meio a uma pororoca de jairinhos, a impávida vendedora de frango entrou no “Ensaio sobre a Cegueira” de Saramago e incorporou a mulher do médico.
E enquanto você assistia inerte ao empilhamento de cadáveres, a vendedora de frango respondeu:
“Pode não!”
*Jorge Normando Rodrigues é assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.