Por João Cassino *
A utilização de drones para entrega de produtos é uma tendência positiva. Neste mês de abril, uma das maiores produtoras de bebidas do país anunciou testes para transporte aéreo usando veículos não tripulados controlados a distância. Até oito quilos de carga poderão ser transportados por curtas distâncias. Deixará de ser força de expressão quando alguém lhe disser que “sua cervejinha chegará voando”.
O mercado brasileiro tem potencial de crescimento no setor. A longa duração da pandemia de Covid-19 tem ampliado a demanda no setor de delivery. Países como os Estados Unidos temem a ampliação de uso de drones pela população civil pelo constante medo de terrorismo. Com isso, o Brasil tem potencial para se tornar um laboratório global. Desde 2017, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) mantém um guia chamado Orientações para usuários de drones, no qual esclarece uma série de regras para o uso dessas aeronaves.
E as regras operacionais são muitas. Não tem como ser diferente. Caso contrário, imagine se substituirmos motoboys e ciclistas por máquinas voadoras? Pense no trânsito dessas pequenas aeronaves passando por cima de nossas cabeças enquanto andamos pelas ruas. Ou se um drone com 10 latinhas de cerveja invadir um apartamento no 5º andar? (bem, até que isso pode ser uma boa).
Se o setor de logística pensa em expandir o uso de veículos não tripulados, a indústria bélica pesquisa como abatê-los. Já existem armas antidrones que são capazes de fritá-los em pleno voo. Feixes de micro-ondas de alta potência são direcionados para incapacitar esses objetos e controlar riscos de ataques de agentes inimigos estrangeiros, domésticos ou do crime organizado.
Os EUA sabem o potencial da letalidade dos drones.Há tempos já os utilizam como um dos principais recursos de guerra. De acordo com o site www.thebureauinvestigates.com, entre 2010 e 2020, o governo norte-americano realizou ao menos 14 mil ataques com drones em países como Afeganistão, Somália, Iêmen e Paquistão, matando milhares de civis. A estimativa de mortos varia entre 8,8 mil e 16,9 mil. Pelo menos entre 910 e 2.200 pessoas eram civis, sendo de 283 a 454 crianças.
Os lobistas da indústria da guerra vendem o drone como uma “arma humanitária”. Dizem que para eliminar as ameaças abatidas por drones de outras maneiras, como invasão de tropas ou bombardeio tradicional, o número de vítimas seria maior. As centenas de inocentes que tombam ano a ano são chamadas de “dano colateral”. Se um drone Predator dispara um míssil hellfire e este atingir uma escola ou um hospital, paciência, faz parte. Pimenta nos olhos dos outros é refresco.
A próxima fronteira da indústria da guerra é a Inteligência Artificial. Atualmente, o drone ainda precisa de um piloto humano, que não está na aeronave, mas em uma base militar. Querem tirar o homem da equação e entregar a um robô voador a decisão de eliminar os alvos. Desejam um algoritmo capaz de identificar das nuvens alguém que está em terra e, baseado em probabilidades matemáticas, sentenciar à morte. Uma máquina assassina que decide quem deve explodir.
Eu não confio no robô nem para escolher o tipo de cerveja que ele deve entregar.
*João Cassino é jornalista, doutorando e mestre em Ciências Sociais.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.