Por Anne Moura *
A pandemia do Covid-19 no desgoverno Bolsonaro está levando o país ao colapso. A ausência de compromisso do governo federal com o enfrentamento à pandemia e seu empenho em desmontar direitos e políticas públicas têm o objetivo de poucos se beneficiarem às custas da desgraça da maioria. Entre as mais atingidas, estão as mulheres.
A disparada de casos de Covid-19 é real e assusta. Há mais de um mês consecutivo, a média de mortes está acima de mil, período mais longo desde o início da pandemia. Colhemos os frutos do genocídio promovido pelo governo federal, com ações e omissões criminosas, como o boicote à vacina e o surgimento de uma nova cepa, que nos fizeram chegar a este ponto. Em 3 de março, o Brasil bateu 1.726 mortos num dia, elevando o total de vítimas fatais para 257.562. O país com mais mortes no mundo, Estados Unidos, teve 1.567 ontem, para se ter uma dimensão. Uma média de 1.038 óbitos por dia. Diariamente, quase 30 mil pessoas estão sendo infectadas pelo novo coronavírus.
Não podemos esquecer que a primeira morte por coronavírus foi de uma mulher negra, trabalhadora doméstica, no Rio de Janeiro, que pegou a doença de seus patrões, que haviam viajado à Itália. O episódio é simbólico sobre quem realmente está pagando a conta das inúmeras crises pelas quais o país está passando.
As tentativas do necessário confinamento da população brasileira tiveram como consequência na vida das mulheres o aumento da violência doméstica, feminicídio e a elevação da carga de trabalho doméstico e de cuidados. Se os dados já eram alarmantes antes da crise sanitária, sua elevação é extremamente preocupante. As marcas que isso deixa nas mulheres estão além do que podemos ver e são profundas. É o que pesquisa da USP, que concluiu que as mulheres foram as mais afetadas emocionalmente pela pandemia. Foram as que mais apresentaram sintomas de depressão, ansiedade e estresse, além de maior consumo de álcool, cigarros e drogas ilícitas.
Quem está pagando a conta da desestruturação econômica do país também são as mulheres. Antes da pandemia, já eram a maioria da população mais pobre, sobretudo as mulheres negras; hoje, estão sendo penalizadas com a negação do direito ao auxílio emergencial, com o desemprego, a fome e a miséria que assola o país.
Além disso, as mulheres também são a maioria das trabalhadoras da saúde, a maioria das professoras, a maioria das assistentes sociais, a maioria das trabalhadoras domésticas. Ou seja, são maioria nas categorias que estão diretamente ligadas ao cuidado e à reprodução da vida das pessoas. Muito embora a sociedade capitalista desvalorize essas funções, mais do que nunca fica nítida a urgência de se defender a centralidade da vida acima do lucro. No caso das professoras, em caso da abertura das escolas, deveriam colocá-las como prioridade na vacinação.
Os movimentos feministas e de mulheres, compreendendo essa urgência, inclusive pelo fato de as mulheres serem responsabilizadas por esses cuidados, constroem o 8 de março de 2021, Dia Internacional da Luta das Mulheres, de maneira unificada. Por todo o país, mulheres das águas, das florestas, do campo, das cidades; mulheres negras, indígenas e de todas as etnias e movimentos; mulheres jovens, idosas e de todas as idades; mulheres lésbicas, bissexuais, transsexuais; se encontram na nossa pluralidade e se unificam para a luta pelo direito da vida da população: Vacina Já para todos, todas e todes; pelo Auxílio Emergencial e combate à fome; pelo fim da violência; e pelo Fora Bolsonaro, representante do projeto de morte no país.
*Anne Moura é secretária Nacional de Mulheres do PT
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.