Por João Cassino *
A pandemia de Covid-19 está em seu pior momento. Ficar em casa o máximo possível tornou-se uma questão de vida ou morte, você já sabe. Dentre os cuidados necessários, além de manter o isolamento social, usar máscara de proteção individual e ter sempre álcool gel em mãos, há um outro tipo de precaução que pouco se fala: a proteção de seus dados pessoais.
Nunca os serviços de entrega por aplicativos foram tão importantes. Graças aos trabalhadores que se arriscam no trânsito de um lado para outro, cuja atividade não lhes permite o distanciamento, podemos solicitar comida, supermercado e remédios. Porém, como intermediárias no processo, as empresas de tecnologia da informação guardam tudo o que fazemos em suas bases de dados.
Tudo o que compramos e consumimos, os horários em que praticamos nossas atividades diárias, as pessoas com quem nos relacionamos, onde estamos localizados geograficamente, tudo fica registrado. As companhias criam perfis para cada um de nós, que são utilizados para direcionamento de propagandas segmentadas e, mais importante, para prever compras futuras. Por exemplo, se compro um determinado medicamento mensalmente há dois anos, provavelmente comprarei também no próximo mês. As empresas podem então antecipar a previsão de suas receitas, estimando uma venda que ainda não aconteceu. Trata-se de tecnologia aplicada à inteligência de negócios. Até aqui, tudo bem.
O problema é quando as empresas começam a utilizar os dados pessoais contra o próprio consumidor. A lei brasileira (ainda) não permite, mas é sonho dos planos de saúde a possibilidade de ofertar pacotes personalizados por perfil. Se alguém é atleta (cuja atividade física é gravada em aplicativos), não tem histórico familiar de doenças como cardiopatias (sem registro de compras de fármacos de controle de pressão arterial) e tem preferência de alimentos saudáveis e orgânicos, tal pessoa seria beneficiada por um plano mais barato. Em contrapartida, se a pessoa é sedentária (o smartphone não muda de localização nunca), toma medicação continuada e come alimentos processados, doces e gorduras, pagará mais caro pelo plano.
Não para por aí. Perfis de consumo e dados de saúde podem ser compartilhados com outras empresas, como agências de emprego. Se um candidato tem probabilidades de ficar doente nos próximos anos, a vaga de trabalho não lhe é ofertada. Financiamentos de longo prazo, como o da casa própria, poderiam ser negados com base nas previsões geradas por computador.
Por tudo isso, muito cuidado com seus dados pessoais. Não precisa deixar de pedir sua pizza favorita pela internet, mas fique atento para quem e quais de suas informações são divulgadas por aí. Lembre-se de que os consumidores não precisam e nem devem fornecer dados em excesso. Questionadas, as empresas têm obrigação de apresentar quais de seus dados são armazenados. Se quiser, faça cumprir seu direito de revogar consentimentos de uso previamente autorizados.
*João Cassino é jornalista, doutorando e mestre em Ciências Sociais.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.