Por Camila Moreno *
Como na canção de Siba, toda vez que Lula dá um passo, o Brasil sai do lugar – nesse caso, o buraco que o neofascismo e o neoliberalismo nos enfiaram pareceu ter saída, quando Lula recuperou seus direitos políticos.
Lula se tornou elegível, falou ao Brasil, e o país saiu do lugar. Bolsonaro trocou seu Ministro da Saúde, um general do Exército, por um médico – que aparentemente não mudará a política de enfrentamento à pandemia no Brasil. Eduardo Bolsonaro passou a dizer (só) agora que “nossa arma é a vacina” e colocaram até um fuzil na mão do Zé Gotinha. O presidente chegou inclusive a anunciar compra de novas vacinas, mesmo ainda sem a assinatura dos contratos.
Tudo isso foi feito depois que o Brasil atingiu a triste marca de mais de 270 mil vidas perdidas. Não podemos nos esquecer nunca que o presidente menosprezou o vírus, chamou de gripezinha, defendeu o uso de medicamentos sem nenhuma comprovação científica da sua eficácia, disse que a vacina poderia transformar as pessoas em jacaré. Promoveu aglomerações – sem máscara, negligenciou a falta de oxigênio em Manaus e ignorou a gravidade nova cepa do coronavírus que agora se espalha pelo país. A crise é generalizada. Somos 3% da população mundial e 10% das mortes por coronavírus! Nesse momento, nada é mais importante que cessar o genocídio. Nada é mais importante que preservar vidas!
A pandemia, que gerou uma gigantesca crise em todo o mundo, expôs os limites e as contradições do capitalismo. No Brasil, como já sabemos, as dificuldades foram além do vírus. Enfrentamos também um governo neofascista, negacionista e ultraliberal. Enfrentamos o crescimento exorbitante do desemprego, o negacionismo científico, a pobreza crescente em todos os cantos do país. Podemos e devemos dizer que a política econômica neoliberal de Bolsonaro e Paulo Guedes, trouxe de volta a miséria e da fome para o Brasil.
É diante desse contexto de caos, pobreza e centenas de milhares de mortes, que Lula teve enfim, seus direitos políticos recuperados, por decisão do ministro do STF Edson Fachin, que anulou todas as condenações injustas impostas pela República de Curitiba, que perderam sua validade. Com a decisão, Lula se tornou elegível.
A recuperação dos direitos políticos de Lula caiu como uma bomba para o governo Bolsonaro, para a classe política, para a elite brasileira e encheu de esperança milhões de corações: desde o militante socialista até a trabalhadora e trabalhador mais pobre de cada canto do país. Há saída, há Lula!
A fala de Lula ao Brasil mobilizou ainda mais nossos sonhos e esperança. Lula mostrou que está, de fato, no seleto grupo de grandes líderes da história, como Nelson Mandela. Sabe que foi perseguido, tem consciência da injustiça que sofreu, mas pensa primeiro no seu povo. Sabe que seu martírio se reflete no sofrimento da população. Sente a dor de cada vida perdida. Conhece a angústia da fome, da perda de vidas queridas, da miséria, do desemprego, da violência. Fala de gente. Tem propostas para o Brasil. Sabe nos tirar desse grande buraco que nos colocaram. Conhece o Brasil, conhece nosso povo, tanto quanto conhece líderes políticos internacionais, religiosos, artistas de todo o mundo. Lula nos encanta e nos emociona!
Lula será nosso principal instrumento para a comunicação direta com o povo brasileiro apresentando bandeiras concretas como vacina para todos, o direito ao isolamento social, o auxílio emergencial de 600 reais, o auxílio para os pequenos empresários, as políticas sociais e deve denunciar o preço da comida, da gasolina, do gás e combater o discurso obscurantista e as políticas neoliberais de Bolsonaro.
O Brasil sempre esteve polarizado entre projeto popular e projeto para a elite, não seria diferente agora. Quem defende o fim da polarização, na verdade, defende um programa político econômico que não é o da classe trabalhadora. Lula é de fato o oposto de Bolsonaro. Enquanto Bolsonaro gere uma política de morte, Lula defende a vida. Enquanto Bolsonaro é um negacionista, Lula defende a ciência. Enquanto Bolsonaro governa para a elite e para o capital financeiro, Lula será o presidente do povo brasileiro.
Foi sintomática a fala Marcos Mollica, do Banco Oportunity, típico representante do capital financeiro que afirmou que com a volta de Lula ao cenário eleitoral, a Faria Lima ficaria sem escolha e teria que apoiar Bolsonaro. Esse é o pensamento dos “donos do dinheiro” no Brasil: ignoram as mortes, o genocídio, a ameaça fascista, a fome, o desemprego, a violência. E é também por isso que nosso programa deve sempre apontar para as políticas sociais e a taxação do andar de cima.
O capital financeiro, embora conveniente e esporadicamente manifeste-se contra ações pontuais de Bolsonaro e até prefira outro candidato do status quo, não teve dúvida em 2018 e não terão dúvida novamente. Neofascismo e neoliberalismo se retroalimentam e é por isso que mantém o PT e Lula sob ataque constante: nós somos a esquerda com viabilidade eleitoral, com base social, com programa, com militância e com perspectiva de poder. E é justamente por isso que nós temos que resistir. A vitória deles é a vitória da barbárie.
É hora de fazer a reconexão com o povo, levantando as bandeiras que fazem sentido na vida das pessoas. Polarizar o país, enfrentar o neofascismo e o neoliberalismo. Mobilizar o Brasil em uma jornada pela reconstrução da nação. É preciso disputar hegemonia, valores, ter prioridade na luta social, na reconstrução de maioria.
Lula é o candidato natural e do coração do povo brasileiro. Lula emociona, mobiliza, toca os corações, mas isso não basta. Não está dado que a justiça burguesa permitirá que Lula vá para as urnas em 2022 e também sabemos que, quando a candidatura de Lula for uma realidade, ainda lutaremos bravamente contra o poder financeiro. É necessário que mantenhamos o alerta, que ampliemos a mobilização. As vitórias eleitorais de 2022 serão resultado de um 2021 de luta política, luta social, trabalho de base, reconstrução de maioria e de disputa programática e de valores. Precisamos ampliar a luta pelo Fora Bolsonaro, pelo auxílio emergencial de R$ 600 enquanto durar a pandemia, por um programa de vacinação nacional para todos e todas.
Devemos construir um programa de recuperação e reconstrução do Brasil que seja capaz de recuperar o Estado brasileiro, destruído pelo Bolsonarismo. Recuperar o investimento, as políticas sociais, o emprego, com distribuição de renda. Um programa que apresente as Reformas estruturais necessárias ao país: dos meios de comunicação, política, tributária, no judiciário, agrária e urbana. Recuperar a Petrobras, mudar o marco regulatório do pré-sal e acabar com o Teto de Gastos, que gerou efeitos perversos no financiamento das políticas sociais. Um programa que passe pelo PT, pela esquerda, pelos que tem compromisso com a democracia em defesa dos direitos do povo! Somos 99%. Lula presidente significa não permitir que o 1% mande nos rumos do Brasil!
“Olha lá, aquela estrela que tentaram apagar
Não se apaga, não se rende
É o brilho dos olhos da gente, olha ela lá
Olha lá, uma ideia ninguém pode aprisionar
O sonho cada vez mais livre
Acesa a esperança vive, olha Lula lá”
*Camila Moreno é feminista, antifascista, socialista e membro da Executiva Nacional do PT.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.