Eleições no Congresso Nacional: Pântano de traições! – Por Chico Alencar

A qualidade da representação depende diretamente da qualidade do nosso voto. E do grau de informação da nossa gente. Só a praça, mobilizada, barra as tramoias dos palácios

Foto: Câmara dos Deputados
Escrito en DEBATES el

Por Chico Alencar *

Meninas, meninos, eu vi: em quatro mandatos como deputado federal, eleição para a Presidência e Mesa Diretora da Câmara dos Deputados é um pântano, uma areia movediça onde o que menos conta são propostas. No Senado é a mesma coisa: os interesses menores do toma-lá-dá-cá imperam. Uma vergonha!

As eleições têm dois turnos. Eu mesmo, mandatado pelo PSOL, as disputei, em duas ocasiões. Para denunciar o ambiente corrompido por negociatas em troca dos votos dos "colegas" e amparo do Executivo (qualquer um), e propor um Legislativo mais transparente e poroso às demandas populares – como Erundina fará hoje (desafinar o coro dos "contentes" com o sistema). Somos ouvidos com muito "respeito", aplausos e... Pouquíssimos votos. É próprio do cretinismo parlamentar, mas vale a pena.

"Parlamento independente" está no centro do discurso de todos, mas longe da prática da maioria. O padrão da política institucional brasileira é o fisiologismo do Centrão. A compra de votos (de variadas maneiras) que elege boa parte dos "representantes do povo" é praticada nessas eleições internas, favorecida pelo voto secreto.

Nós, os representados, não podemos saber como os "representantes" votam... Daí os Severinos Cavalcantis, Maranhões e Cunhas da vida. Quando caem, outros mais "jeitosos" se apresentam, dentro do mesmo esquema.

Durante 16 anos batalhei, junto com nossa bancada, pelo voto aberto pleno no Parlamento. Não conseguimos para as eleições dos comandantes das Casas. E, como dizia Tancredo Neves, felpuda raposa política, "voto secreto dá uma vontade danada de trair".

O resultado é um IT (Índice de Traição) elevado. No blocão que Rodrigo Maia – antigo apoiador de Cunha, lembre-se – armou, o DEM, seu partido, tem cargos no governo (Itaipu, Codevasf, Incra, SPU, Conab), o PSDB também (DNOCS, MAPA, Saúde Indígena, Ibama). Sob ameaça de perdê-los, alinham-se sem pestanejar. O PSB (Socialista!?) desde o início esteve com parte dos seus deputados no campo governista.

Bolsonaro faz o que, na campanha, condenou: distribui cargos, verbas "extras" do orçamento (estima-se em R$ 20 bi!). Agora, até o MDB (de Baleia Rossi) está de olho na Eletrobras... A pequena política, das relações corrompidas e da demagogia, continua a ser a grande, a predominante.

Maia, irritado com seu próprio partido, ameaça acatar algum pedido de impeachment de Bolsonaro. Antes tarde do que nunca! Mas tem toda pinta de ser um rompante, um blefado "troco" de quem vê seu "toque de reunir" ameaçado pelo mesmo adesismo clientelista do qual se beneficiou.

Lembra daquela sessão "histórica" de votação do impeachment da Dilma, transmitida em cadeia nacional, num domingo? As declarações da maioria das excelências chocaram o país: "pela minha mãe", "pelas obras que consegui", "por meu marido, incorruptível" (o cara foi preso dias depois, acusado de roubo na Saúde)... Foi na esteira do triunfo dessa baixaria que o atual Congresso foi eleito, inclusive o presidente da República – que, na ocasião, fez o elogio abominável à tortura e ao torturador-mor da Ditadura.

"De onde menos se espera... É que não sai nada mesmo", dizia Aparício Torelli, o Barão de Itararé, que foi vereador no Rio. Só não podemos é esperar sentados.

Meninas, meninos, eu vi: em quatro mandatos como deputado federal, eleição para a Presidência e Mesa Diretora da Câmara dos Deputados é um pântano, uma areia movediça onde o que menos conta são propostas. No Senado é a mesma coisa: os interesses menores do toma-lá-dá-cá imperam. Uma vergonha!

As eleições têm dois turnos. Eu mesmo, mandatado pelo PSOL, as disputei, em duas ocasiões. Para denunciar o ambiente corrompido por negociatas em troca dos votos dos "colegas" e amparo do Executivo (qualquer um), e propor um Legislativo mais transparente e poroso às demandas populares – como Erundina fará hoje (desafinar o coro dos "contentes" com o sistema). Somos ouvidos com muito "respeito", aplausos e... Pouquíssimos votos. É próprio do cretinismo parlamentar, mas vale a pena.

"Parlamento independente" está no centro do discurso de todos, mas longe da prática da maioria. O padrão da política institucional brasileira é o fisiologismo do Centrão. A compra de votos (de variadas maneiras) que elege boa parte dos "representantes do povo" é praticada nessas eleições internas, favorecida pelo voto secreto.

Nós, os representados, não podemos saber como os "representantes" votam... Daí os Severinos Cavalcantis, Maranhões e Cunhas da vida. Quando caem, outros mais "jeitosos" se apresentam, dentro do mesmo esquema.

Durante 16 anos batalhei, junto com nossa bancada, pelo voto aberto pleno no Parlamento. Não conseguimos para as eleições dos comandantes das Casas. E, como dizia Tancredo Neves, felpuda raposa política, "voto secreto dá uma vontade danada de trair".

O resultado é um IT (Índice de Traição) elevado. No blocão que Rodrigo Maia – antigo apoiador de Cunha, lembre-se – armou, o DEM, seu partido, tem cargos no governo (Itaipu, Codevasf, Incra, SPU, Conab), o PSDB também (DNOCS, MAPA, Saúde Indígena, Ibama). Sob ameaça de perdê-los, alinham-se sem pestanejar. O PSB (Socialista!?) desde o início esteve com parte dos seus deputados no campo governista.

Bolsonaro faz o que, na campanha, condenou: distribui cargos, verbas "extras" do orçamento (estima-se em R$ 20 bi!). Agora, até o MDB (de Baleia Rossi) está de olho na Eletrobras... A pequena política, das relações corrompidas e da demagogia, continua a ser a grande, a predominante.

Maia, irritado com seu próprio partido, ameaça acatar algum pedido de impeachment de Bolsonaro. Antes tarde do que nunca! Mas tem toda pinta de ser um rompante, um blefado "troco" de quem vê seu "toque de reunir" ameaçado pelo mesmo adesismo clientelista do qual se beneficiou.

Lembra daquela sessão "histórica" de votação do impeachment da Dilma, transmitida em cadeia nacional, num domingo? As declarações da maioria das excelências chocaram o país: "pela minha mãe", "pelas obras que consegui", "por meu marido, incorruptível" (o cara foi preso dias depois, acusado de roubo na Saúde)... Foi na esteira do triunfo dessa baixaria que o atual Congresso foi eleito, inclusive o presidente da República – que, na ocasião, fez o elogio abominável à tortura e ao torturador-mor da Ditadura.

"De onde menos se espera... É que não sai nada mesmo", dizia Aparício Torelli, o Barão de Itararé, que foi vereador no Rio. Só não podemos é esperar sentados. A qualidade da representação depende diretamente da qualidade do nosso voto. E do grau de informação da nossa gente. Só a praça, mobilizada, barra as tramoias dos palácios.

*Chico Alencar é professor de História e vereador (PSOL) na Câmara do Rio de Janeiro.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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