Por Marco Aurélio Carvalho*
O Grupo Prerrogativas é formado por centenas de advogados e advogadas. Por combativos Defensores públicos… Professores … juristas… membros do Ministério Público e do próprio Judiciário…. Por Operadores do Direito….
Por nosso dever de ofício, trabalhamos na defesa incondicional dos direitos e das garantias fundamentais.
Somos guiados pela convicção inabalável na presunção de inocência, no contraditório, no direito sagrado de defesa e no devido processo legal.
Mas nós, do Grupo Prerrogativas, queremos ir além desse credo fundamental que nos une e reúne...
Assumimos um compromisso de vida: um pacto de sangue na luta pela construção de uma sociedade democrática, justa, diversa, inclusiva, fraterna, solidária e verdadeiramente antirracista.
Acreditamos que só haverá justiça no país quando liberdade e igualdade forem plenamente asseguradas a todos os brasileiros e brasileiras. Sem exceção.
Este era também o sentido de toda a caminhada luminosa de nosso grande inspirador, o querido e inesquecível Luiz Carlos Sigmaringa Seixas.
Neste Natal, completamos três longos e sofridos anos de sua ausência tão presente em nossas vidas.
Com a certeza de que Sig vive no melhor de cada um de nós, mesmo sentindo os efeitos de uma crise gigantesca, com reflexos na economia, na política, na saúde, no meio ambiente e na cultura, não perdemos a capacidade de lutar e de resistir…
Sig segue vivendo no melhor de cada um de nós …
Em nome do Grupo Prerrogativas, hipoteco, neste final de ano, a nossa irrestrita solidariedade com cada uma das mais de 620 mil famílias brasileiras que chora, hoje, a morte de um ente querido.
Mais de 600 mil ausências sofridas…
Mais de 600 mil histórias interrompidas…
Por ações e omissões criminosas deste Governo genocida que nos envergonha diante do Brasil e do mundo.
Neste verdadeiro desastre, muita gente sujou as mãos de sangue…
Não podemos nos esquecer que muitos chegaram a sustentar que a escolha era realmente difícil.
O Grupo Prerrogativas, entretanto, nunca se escondeu na conveniência do silêncio…
Desde sua fundação, sob a edificante inspiração de nossos patronos, e em especial do nosso amado Sig, denunciamos o avanço nefasto do processo de judicialização da política e de politização do judiciário, faces perversas de uma mesma moeda… a moeda do ativismo judicial…
Denunciamos a instrumentalização da Justiça a serviço de interesses políticos e eleitorais.
Não nos acovardamos com a popularidade de uma operação que trouxe ao país um legado de destruição e de miséria.
Uma operação que instalou no país um governo de investidas autoritárias, de políticas regressivas e de supressão de direitos.
Um governo que afundou o Brasil na recessão e no desemprego, e que trouxe de volta a miséria e a fome.
Sim, um governo que se instalou no comando do país pela ação criminosa de agentes de estado que agiram com interesses políticos e eleitorais.
O Bolsonarismo, creiam, é filho legítimo do lavajatismo.
A República de Curitiba sujou as mãos de sangue.
E os “filhos de Januário” também.
Mas nada disso nos tira a esperança, nem nos impede de perseguir nossos objetivos.
Na noite do último dia 19, enviamos um recado poderoso para a sociedade brasileira….
O recado de que é possível deixar de lado divergências políticas e até mesmo pessoais para reconstruir e reconciliar o país.
É possível, e é necessário…
O recado de que juntos podemos, novamente, enfrentar e acabar com a fome que voltou a assolar milhares de lares brasileiros…
Sim… é em um espaço como aquele, onde não se fala da Fome, e onde não se sente fome, que precisamos falar da Fome e da miséria…
Precisamos ocupar todos os espaços.
Neste encontro, sob o comando da Coalizão negra por direitos, arrecadamos milhares de reais…
Uma gota no oceano.
Mas, como sabemos, uma grande jornada se começa com um passo…
E daremos muitos e muitos passos.
Nesta memorável noite, entregamos, também, o Troféu Perseverança ao ex-presidente Lula, que nunca se curvou, e que nunca desistiu.
Todos sabemos que a força dessa perseverança vem de longe. Da sobrevivência improvável de uma família de retirantes sertanejos. Da viagem sofrida em um pau-de-arara, em busca de oportunidade em outras terras.
Uma jornada épica, sob a proteção de uma nordestina de fibra. Uma mulher para quem a perseverança realizou o impossível.
Dona Lindu. Inspiração para outras tantas mulheres que diante dos maiores desafios perseveraram.
Levantaram a cabeça e seguiram em frente.
Mães e mulheres solidárias, que fortaleceram em Lula a disposição inata da persistência. A força para nunca desistir.
“Tem que teimar”!
Essa é a frase que Dona Lindu repetiu e repisou desde a infância do presidente e que ecoou muitas vezes como uma espécie de mantra-síntese da perseverança. Em 1989, 1994 e 1998. E também em 2004 e 2008.
Essa teimosia, sinônimo popular da verdadeira perseverança, o acompanhou, com a força do povo, ao comando da Nação, que hoje anseia pelo seu retorno.
Não tenho a pretensão de fazer análise histórica ou sociológica. Não é preciso ir muito fundo para enxergar: somos uma sociedade autocrática, escravagista, preconceituosa, machista e patriarcal.
A classe dominante não perdoa a quem mexe com seus privilégios. Mais cedo ou mais tarde, ela cobra seu preço.
E o presidente Lula pagou muito caro.
Foi vítima de uma conspiração sórdida, hoje desmascarada.
Cumpriu 580 dias de uma prisão injusta e infame.
580 dias
Sem se vergar!
Sem trocar a liberdade pela sua dignidade
E persistiu com a certeza de que sua inocência prevaleceria.
Ao entregar o troféu, dedicamos uma preciosidade da escritora feminista chilena, Gabriela Mistral, ganhadora do Prêmio Nobel de 1945, que vale de alento a todos nós:
“Dai-nos, Senhor, a perseverança das ondas do mar, que fazem de cada recuo um ponto de partida para um novo avançar”.
Para todos os ali presentes, a vida de Lula e também a de Sigmaringa tem a força dessas ondas. Nessa nova caminhada rumo à Presidência da República, Lula seguramente poderá contar conosco.
Viva o Grupo Prerrogativas, viva o Lula, viva o Sig, viva o povo brasileiro!
*Marco Aurélio Carvalho é jurista e coordenador do Grupo Prerrogativas