Tempos difíceis, tempos de luta..., por Frei Sérgio Antônio Görgen

Todos os cenários previstos a respeito do desgoverno cruel e fascista que ocupa o poder Executivo do país conseguiram ser piores do que poderíamos imaginar

Foto: Frei Sérgio Antônio Görgen - Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (CESEEP)
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Por Frei Sérgio Antônio Görgen *

O ano de 2020 foi um desafiador para os lutadores e lutadoras do povo brasileiro. Também para as famílias camponesas.

Por vários motivos.

Volta do Brasil ao mapa da fome, governo Federal de costas para quem produz alimentos e só apoiando o agronegócio exportador, inflação dos alimentos, seca no Sul e, além de tudo isso, uma pandemia com o coronavírus abalando famílias e toda sociedade.

Os movimentos populares já estavam em atitude política de resistência ativa antes da Covid-19. Só reforçou esta atitude, buscando formas de se articular e se organizar nacionalmente através das novas ferramentas de comunicação virtual.

O que não parou foi a produção de alimentos, com todos os cuidados para evitar a dispersão do vírus mortal entre o povo camponês.

Prejudicou, em parte, a comercialização de alimentos com o povo da cidade, o que foi retomado aos poucos, com respeito aos protocolos necessários à preservação da saúde.

Por outro lado, os laços de solidariedade foram reforçados entre os movimentos camponeses e as comunidades trabalhadoras das cidades através dos mutirões contra a fome, doações de alimentos, feiras nos bairros, executados pelos movimentos do campo em aliança com movimento populares urbanos, sindicatos e entidades populares, de norte a sul do país. A solidariedade foi o mais importante remédio utilizado contra o medo e o desespero.

Todos os cenários previstos a respeito do desgoverno cruel e fascista que ocupa o poder Executivo do país conseguiram ser piores do que poderíamos imaginar.

Economia em frangalhos, fome dilacerando os lares pobres, preço dos alimentos nas alturas, camponeses sem apoio para produzir alimentos, desemprego brutal rasgando a esperança de futuro da nossa juventude, natureza devastada com queimadas e desmatamentos e a perseguição ao povo negro cada vez mais escancarada e cruel, expondo a chaga do racismo estrutural.

Uma enorme demonstração de articulação e organização foi a elaboração e a luta por um Projeto de Lei para apoiar a produção de alimentos. Transformou-se na Lei Assis Carvalho, mas o elemento que adentrou ao Palácio do Planalto vetou, demonstrando o que realmente é: um inimigo dos pobres e que pouco se importa com a fome e a vida do povo.

Mas esta luta continua, pela derrubada dos vetos.

A resistência também continua. Luta pela vacina para retomar o caminho das ruas. Necessidade de formação política, reorganização das bases, comunicação popular de massa, encantamento da juventude com a luta por um mundo melhor.

Tempos difíceis, tempos de luta.

Luta para vacinação em massa, pelo SUS, gratuitamente. Luta contra a fome. Luta pelo emprego. Luta para fortalecer a agricultura camponesa na produção de alimentos saudáveis. Luta para manter o direito de sonhar, pelo direito à esperança.

E a clareza de sempre: o caminho da esperança é o caminho da organização e da luta.

*Sérgio Antônio Görgen é frei franciscano, militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e autor da obra “O Plano Camponês”.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.