Mortes por frio em São Paulo: essa tragédia tem solução, por Isa Penna

"Existem atualmente cerca de 30 mil pessoas em situação de rua e há 40 mil imóveis abandonados apenas no Centro expandido de São Paulo que a prefeitura pode desapropriar legalmente"

Foto: Eduardo Matysiak/Futura Press
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POR ISA PENNA*

A onda de frio das últimas semanas matou entre duas e cinco pessoas em situação de rua na capital do estado mais rico do país. A prefeitura de São Paulo fala em dois mortos, enquanto o Movimento da População em Situação de Rua do estado contabiliza cinco.

A discrepância acontece pelos mesmos motivos que o atual prefeito, Bruno Covas, conta 24 mil pessoas na rua na cidade, enquanto o Movimento e a Pastoral Católica, liderada pelo Padre Júlio Lancelotti, apontam mais de 30 mil – número que aumentou visivelmente com a pandemia e a crise econômica.

A tragédia se repete a cada inverno sem que as autoridades procurem buscar saídas definitivas, porém, medidas imediatas para impedir mais mortes já foram listadas em um manifesto assinado por 17 organizações e movimentos sociais divulgado no dia 22 de agosto: “Em defesa da Vida da População em Situação de Rua”.

A carta destaca a necessidade de suspender imediatamente o confisco de pertences das pessoas em situação de rua; de garantir vagas em hotéis; de transformar prédios públicos desocupados ou ociosos em abrigos com roupas de cama limpas, chuveiros e café da manhã; e de que órgãos municipais possam coordenar esforços para minimizar o sofrimento dessa população no estado.

Tais medidas contam com meu total apoio, porém, é preciso ter em vista que o problema da moradia na cidade pode se agravar ainda mais considerando que hoje existem 18,5 milhões de brasileiros sem ocupação, segundo a PNAD, e que provavelmente terão dificuldades crescentes em arcar com os custos de uma moradia digna. Desse modo, é preciso pensar a questão a longo prazo como propõe Guilherme Boulos, liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e pré-candidato a prefeito de São Paulo pelo PSOL.

Ao mesmo tempo em que existem atualmente cerca de 30 mil pessoas em situação de rua, há 40 mil imóveis abandonados apenas no Centro expandido de São Paulo que a prefeitura pode desapropriar legalmente. Mas por que isso não é feito? Em entrevista para o porta UOL, Boulos afirma que “falta vontade política para cumprir a lei [quanto às desapropriações], (pois) há compromisso com a especulação imobiliária, com uma máfia de empreiteiras, de fundos imobiliários que pagam campanhas eleitorais”.

Guilherme Boulos e sua pré-candidata a vice-prefeita, Luiza Erundina, têm como prioridade o combate às máfias e aos interesses privados que se sobrepõem às necessidades da população de São Paulo. Ambos sabem que para mudar de fato a realidade da população mais pobre da cidade é preciso ter coragem para enfrentar de frente o que de fato impede o acesso à moradia e a uma vida digna. São Paulo precisa urgentemente dessa revolução solidária, e é com eles que eu vou nas próximas eleições!

*Isa Penna é deputada estadual (PSOL-SP)

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum