Por Isa Penna*
Entregadores de delivery irão realizar no dia 1º de julho a primeira greve nacional da categoria e o apoio da população será essencial. A pandemia de Covid-19 escancarou o caráter degradante desse tipo de trabalho, o qual obriga cerca de 4 milhões de brasileiros a irem às ruas diariamente sem nenhum direito garantido, sendo forçados a desrespeitarem a política de isolamento social para que possam garantir a sua sobrevivência.
Esta obrigatoriedade decorre da forma pelo qual este trabalho é organizado. As empresas (Uber, Loggi, iFood, James, Rappi) apenas se dizem responsáveis por manter uma infraestrutura digital que permite o encontro entre consumidores e entregadores, de modo que consideram estes últimos trabalhadores autônomos. Por serem autônomos, torna-se de responsabilidade dos entregadores arcar com todos os custos existentes, como, por exemplo, a bicicleta, a alimentação e o plano de dados para celular, e, ao mesmo tempo, não possuem quaisquer garantias, como ter um salário calculado a partir das horas trabalhadas, já que seus rendimentos são compostos exclusivamente por um percentual do valor total cobrado pelas empresas dos usuários. Assim, quem não vai para as ruas, ou quem fica na rua e não recebe pedidos, não recebe nada ao final do dia. Vale destacarmos que a remuneração média de quem está começando na profissão é de R$ 25,00 por dia.
A pandemia de Covid-19 piorou ainda mais a situação desses trabalhadores. Além de correrem grandes riscos de contaminação, a pesquisa da Rede de Estudos e Monitoramento Interdisciplinar da Reforma Trabalhista (Remir) demonstrou que os entregadores passaram a trabalhar mais e ganhar menos durante a quarentena. Também coube a eles arcar com o aumento de gastos para trabalhar, já que os valores que as empresas disponibilizaram para a compra de máscaras e álcool gel é completamente insuficiente para quem trabalha todos os dias. Para denunciar estas condições, algumas manifestações já foram realizadas nas últimas semanas e agora está sendo organizada esta greve nacional. Suas principais pautas são justas: aumento do valor das corridas; fim dos bloqueios arbitrários que impedem alguns entregadores de seguirem trabalhando; seguro em caso de roubo e acidente; e disponibilização de EPIs para diminuir os riscos de contaminação por coronavírus.
Todos aqueles que lutam por uma sociedade democrática, que são antifascistas e antirracistas, devem apoiar ativamente esta manifestação. Não podemos ser coniventes com condições de trabalho que fazem pessoas carregarem comida o dia inteiro nas costas com fome, como foi denunciado por um dos organizadores. Podemos apoiar a manifestação ao não fazer pedidos no dia 1º de julho; divulgar o #BrequeDosApp em redes sociais, e avaliar negativamente os aplicativos nas lojas de aplicativos. É hora de pressionarmos os poderes públicos para que garantam melhores condições de trabalho aos trabalhadores por aplicativo. Eu farei minha parte!
*Isa Penna é deputada estadual de São Paulo pelo Psol.
*Esse artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum.