Por Fabiano Coelho e Eudes Fernando Leite*
Nesta quinta-feira, dia 11 de junho de 2020, a intervenção na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), no Mato Grosso do Sul, completa um ano. Em 2019, o ministro da Des-Educação, Abraham Weintraub, publicou no Diário Oficial da União a nomeação da professora Mirlene Ferreira Macedo Damázio para exercer o cargo de reitora pro tempore da instituição.
Para muitos estudantes, técnicos/as e professores/as tratava-se apenas de um ato administrativo pontual, e que logo a UFGD voltaria à normalidade. NÃO! Estava em curso na UFGD um golpe, muito bem orquestrado nos bastidores e com a articulação de alguns oportunistas, que não têm projeto e competência para disputar e vencer um pleito eleitoral. Ao completar aniversário de um ano, só não vê o processo de golpe na UFGD quem não quer. A UFGD encontra-se sob intervenção!
SIM! Na UFGD teve eleição para escolha do reitor/a e vice-reitor/a! Lembramos, pois nossa memória não é curta, como diz a expressão popular. Entre os meses de fevereiro e março de 2019, a instituição realizou sua Consulta Prévia, que é o diálogo com a comunidade para saber e escolher, por meio do voto, quem os/as estudantes, técnicos e técnicas e professores e professoras querem e legitimam para exercer a função de reitor/a e vice-reitor/a da universidade.
A Consulta Prévia é parte do processo democrático na instituição, articulado pelo princípio constitucional da autonomia universitária. A Chapa 1 – “Unidade UFGD”, composta pelo professor Etienne Biasotto e pela professora Claudia Lima foi a VENCEDORA.
Em segundo lugar ficou a Chapa 3 – “UFGD Mais”, composta pela professora Liane Calarge e o professor Caio Chiarello. Em terceiro lugar ficou a Chapa 2 – “UFGD em Ação”, composta pelos professores Joelson Pereira e Nelson Domingues.
Após a Consulta Prévia, o colégio eleitoral – instância responsável pelo processo de eleição do reitor e vice-reitor na UFGD, respeitando os trâmites legais, convocou a eleição e deliberou pelo voto da comunidade UFGD, elegendo o professor Etienne Biasotto e a professora Claúdia Lima em primeiro lugar para compor a Lista Tríplice que, posteriormente, foi envidada ao MEC, obedecendo toda a legislação.
O processo seguiu todos os trâmites legais, da UFGD e do MEC. Não houve irregularidade. Porém, o processo de escolha da reitoria foi judicializado. O processo está finalizado em primeira instância, sendo a Lista Tríplice validada pela Justiça Federal. Ou seja, já existe uma decisão favorável à UFGD no processo, mas o MEC não nomeia o reitor e a vice-reitora eleitos.
No momento, a partir de recursos, o processo está em segunda instância, no Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo. O “trágico”, em forma de “farsa”, foi que a interventora nomeada tem vínculos estreitos com a Chapa 2 (inclusive fez, publicamente, campanha para tal chapa), que ficou em último lugar no processo de Consulta Prévia à comunidade acadêmica.
Além disso, a interventora e o vice-interventor têm proximidade com o governo. Coincidência? NÃO! Talvez para aqueles/as que ainda acreditam no “Papai Noel”. A interventora representa a chapa que ficou EM ÚLTIMO LUGAR na eleição da UFGD, um projeto que foi rejeitado pela maioria dos estudantes, técnicos/as e professores/as.
E mais, a interventora não tem voto, nem um, da comunidade UFGD, pois não teve a coragem de concorrer a uma eleição. Uma dica à interventora e seus interventores/as: quer ser reitor/a legítimo/a? Apresente-se à comunidade e vença a eleição, no voto.
Desde a intervenção, infelizmente, a UFGD tem agonizado e as instâncias democráticas na universidade têm sido duramente sufocadas.
A gestão pro tempore da UFGD não tem projeto, o que é compreensível de um grupo que quer “governar” a toque de caixa, por um momento político oportunista. A ausência de projeto tem se revelado dia a dia na UFGD, nos atos administrativos, nas insistentes confusões cotidianas e nas ações sem planejamento. Isto é, uma gestão que toca as coisas “com a barriga”.
A pior face da gestão interventora é que ela menospreza o diálogo com a comunidade acadêmica e atravessa aquilo que fora construído historicamente pela instituição. Uma frase que sintetiza bem essa gestão é: “A UFGD sou eu”.
Para se ter uma ideia, há seis meses não se tem reuniões do Conselho Universitário (COUNI), instância máxima de deliberação. Desde março, não tem reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cultura (CEPEC). Por quê? Pela pandemia da Covid-19? Não! Porque a gestão interventora é centralizadora, não quer diálogo, não quer o contraditório, não quer ver e ouvir “gentes”, e tem manifestado práticas autoritárias na universidade.
A interventora, por ilegítima que é, tem horror às práticas realizadas a partir das instâncias deliberativas da instituição.
Aqueles/as que se beneficiam da Intervenção, com cargos, por interesses particulares, ou pelo bel prazer de compactuarem com um governo que não respeita a democracia e a autonomia universitária, se disfarçam de “imparciais e neutros”, e tentam passar a imagem de que estão participando do momento pro tempore “pela UFGD”.
Com todo respeito, nos poupem do cinismo e assumam corajosamente o projeto autoritário que apoiam! Vocês prestam um desserviço à instituição!
Antes de finalizar, frisamos: o que se passa na UFGD e em outras universidades e instituições federais Brasil afora é parte de um projeto autoritário e obscurantista que se tenta implementar no país, a partir de perspectivas que negam a ciência, torturam números das vítimas da pandemia e enxergam fantasmas comunistas à cada esquina.
Lamentamos que alguns/mas docentes, técnicos/as e estudantes se prestem à essa tarefa sórdida. O que nos mobiliza, contudo, é a certeza da história a nos mostrar que, desde os anos 1970, quando a semente inicial da UFGD foi plantada em Dourados, a instituição, que brotou, cresceu e se consolida, é mais forte e vigorosa do que as forças do atraso que tentam cercear o sucesso de uma instituição universitária pública e de excelência na região da Grande Dourados.
As gentes e as forças que a interventora representa integrarão o passado desconexo e arbitrário, do qual fazem parte, e serão superadas pela força e empenho daqueles/as que defendem a universidade pública.
Nós não esperamos revelações ou dádivas, nós lutamos, como outros/as lutaram. Quem sabe faz a hora; não espera acontecer! A UFGD é maior que a interventora e os/as interventores/as. Apesar de vocês; amanhã há de ser outro dia.
* Fabiano Coelho e Eudes Fernando Leite são professores da UFGD.
*Esse artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum.