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Neste sábado (8), a tragédia que vitimou dez adolescentes no centro de treinamento do Flamengo fará um ano. Sete famílias ainda cobram na Justiça uma reparação do time rubro-negro. Em carta enviada ao presidente do clube e a diretores do time, nesta sexta-feira (7), e compartilhada com a Fórum, o vereador Leonel Brizola (PSOL-RJ) sugere algumas propostas de mediação entre o Flamengo e as famílias.
Confira.
Prezado Presidente Rodolfo Landim, Vice-Presidente Jurídico Rodrigo Dunshee, demais dirigentes, conselheiros, conselheiras, sócias e sócios do Clube de Regatas do Flamengo, O ano de 2019 foi um dos mais vitoriosos da história do Flamengo, mas também foi o ano de sua maior, mais profunda e mais definitiva derrota: há um ano o incêndio no CT Ninho do Urubu culminou na morte de 10 jovens e sonhadores garotos, além dos feridos. Este acontecimento é uma dolorida chaga não só para as vítimas e familiares, mas também para o clube mais popular do país, para sua torcida e para todos os brasileiros, em especial para os cidadãos e cidadãs do Rio de Janeiro.
Fui, por dois anos, presidente da Comissão Permanente da Criança e do Adolescente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, sou representante eleito do povo carioca, sou pai. E flamenguista. Por tudo isso me sinto no direito e, principalmente, no dever de enviar essa carta aos senhores e senhoras. Essa catástrofe, assim como acontece com todos os senhores(as), tenho certeza, me ocupa e me abala sobremaneira, de modo que uso esta carta para uma proposta pública de medidas a serem tomadas que eu e minha equipe julgamos mais adequadas e pertinentes.
As propostas se dividem em quatro eixos, e são os seguintes:
1. JUSTIÇA. Paralelamente às investigações da Polícia Civil, do Ministério Público e da CPI da Alerj, é imperioso que o Flamengo realize, imediatamente, um amplo e transparente procedimento de apuração de natureza administrativa interna para esclarecer todos os detalhes do ocorrido, suas causas e, eventualmente, seus responsáveis. Tal procedimento deverá culminar em revisão de protocolos de segurança e, se for o caso, punição administrativa dos responsáveis.
2. MEMÓRIA. Que o Flamengo torne prioritária a honra e reverência aos 10 adolescentes mortos e aos feridos no fatídico 8 de janeiro de 2019, eternizando seus nomes em monumentos do clube, criando um memorial, fixando o 8 de fevereiro no calendário do clube como data de reflexão, luto e memória, realizando ações permanentes nos jogos e eventos, etc. C MARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO Da mesma forma, consideramos necessário que as famílias das vítimas sejam igualmente acarinhadas e acolhidas permanentemente pelo clube: o Flamengo lhes deve afeto.
3. REPARAÇÃO. Embora saibamos que o Flamengo está se esforçando para fechar acordo de indenização com todas as famílias e vítimas do triste incêndio, além de estar pagando mensalmente uma quantia em dinheiro para lhes dar tranquilidade, além de ter arcado com todos os custos com viagem, traslado, terapia e hospedagem, pedimos, dado o caráter absolutamente extraordinário da tragédia, que o clube haja com ainda mais diligência e generosidade, não se pautando necessariamente por casos supostamente similares justamente pela natureza absolutamente singular do acontecimento.
4. APRENDIZADO. Em sua história, o Flamengo transformou as racistas e classistas alcunhas de "urubu", "time de preto", "favelados" e "mulambos" em signos de orgulho e resistência. Dessa vez, neste fatídico episódio e guardadas as devidas proporções, obviamente, rogo para que o Flamengo transforme todo esse sofrimento em lição, aprendizado e ação, criando uma diretoria, comitê ou grupo de trabalho permanente que crie protocolos de cuidado integral de seus e suas atletas de base, contendo assistência educacional, assistência médica, assistência social, acompanhamento psicológico, segurança alimentar dos e das atletas e de suas famílias e, notadamente, segurança absoluta nas instalações de alojamento. Sabemos que parte desses protocolos já são adotados pelo clube, mas é preciso mais. Tal diretoria, comitê ou grupo de trabalho permanente não deve ficar restrito ao Flamengo, mas se disponibilizar gratuitamente a prestar consultorias a todos os clubes esportivos do Brasil, direta ou indiretamente, a fim de criar um pacto nacional para que nunca mais uma tragédia como essa se repita. O Flamengo pode e deve liderar esse processo que, pela sua natureza ambiciosa, pode ser civilizatório e revolucionário. Caro presidente, dirigentes, conselheiros, conselheiras, sócias e sócios, estas são as contribuições que, respeitosamente, apresento, e desde já coloco o meu mandato, meu tempo e a minha equipe à disposição, se for necessário, para implementar tais medidas”.
Leonel Brizola
Flamenguista e vereador do Rio de Janeiro