Por Antonio Neto*
O governador de São Paulo, João Doria, enche o peito para dizer que defende a ciência e que trata a pandemia com a seriedade que a maior tragédia da nossa história exige. Mas um olhar mais atento aos fatos para além dos discursos nos mostra que o que Doria faz é tentar fazer uso político de uma doença – e sua eventual vacina – que já tirou a vida de mais de 180 mil brasileiros e brasileiras.
Antes de mais nada, vale lembrar que Doria diz isso agora, mas até meados do ano passado cerrava fileiras ao lado de fascistas que, além da crueldade notória em seus pensamentos, juram que a Terra é plana. Não esqueçamos que, em 2018, a campanha vitoriosa do tucano foi com o slogan “BolsoDoria”, e João, que de “trabalhador” não tem nada, celebrou sua eleição abraçado a um senhor que agora chamamos de genocida, um tal de Jair Bolsonaro, o Messias da morte.
Vou além: Doria anunciou a tal vacina, alvo de polêmicas por todos os lados, para dezembro, e o fez em plena corrida eleitoral, na qual seu afilhado político, Bruno Covas, disputava a Prefeitura de São Paulo. Covas foi eleito, inclusive, como todos sabemos, apesar de toda a nossa dedicação para propor um caminho diferente para a cidade. Mas as urnas são soberanas e aqui registro o respeito à escolha democrática dos paulistanos e paulistanas. Voltando à CoronaVac, Doria depois “adiou” a vacina para janeiro, embora eu chame mesmo o ocorrido de “mentira”, para manter a elegância e não falar em estelionato eleitoral.
Pois agora Doria enviou um projeto para a Alesp, que foi aprovado na quarta-feira da semana passada (16/12), cortando 30% da verba destinada à Fapesp, a agência paulista de pesquisa científica. É digno de registro que na segunda-feira (14) Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan, falou no Roda Vida com todas as letras que Doria não tiraria recursos da Fapesp. Quero crer que Dimas, assim como nós, foi enganado. Não seria o primeiro, e provavelmente não será o último.
O que faz Doria perder o sono todas as noites não são as mortes causadas pela Covid-19. Caso fosse, ele não teria fingido não ver a chegada da segunda onda da pandemia durante o período eleitoral, anunciando a volta à fase amarela “coincidentemente” após o fim da disputa que elegeu seu pupilo. Sabemos que, na política, não existem coincidências. Mas o que tira o sono de Doria é sua implacável ambição em se tornar presidente da República a todo custo, nem que para isso ele precise mentir e enganar a população.
Somos todos a favor de qualquer vacina chancelada pela comunidade científica nacional e estrangeira, é claro. Mas Doria quer mesmo é fazer uso político da tragédia para pavimentar sua candidatura à cadeira presidencial em 2022. E que não reste nenhuma dúvida: faremos de tudo para impedir isso e como todos sabem, trabalhamos e trabalharemos dia e noite para propor uma alternativa ao povo brasileiro, com um líder que seja digno do cargo e com um projeto que recoloque o país no rumo de desenvolvimento e da defesa do interesse nacional.
*Antonio Neto é presidente municipal do PDT em São Paulo, presidente da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros) e presidente do Sindpd (Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo). Foi candidato a vice-prefeito de São Paulo na chapa de Márcio França (PSB).
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.