O sonho da Presidência da Câmara, por Ricardo Cappelli

Como já dizia o samba-enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel, no longínquo carnaval de 1.992, “Sonhar não custa nada”. No mundo político a regra também vale.

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Por Ricardo Cappelli *

Assim que o STF rejeitou a possibilidade de reeleição dos presidentes das duas casas legislativas, Lula e Ciro conversaram ao telefone e marcaram uma reunião no Congresso Nacional com as principais lideranças do campo progressista.

Na semana seguinte, todos se reuniram. Lula, Ciro, Luciana Santos (PCdoB), Lupi (PDT), Gleisi (PT), Carlos Siqueira (PSB), Juliano Medeiros (PSOL), Flávio Dino, Freixo, Molon e muitos outros.

Cercada de expectativas, a reunião começou pontualmente. A sucessão no Poder Legislativo em tempos de ameaça autoritária é uma questão estratégica diretamente ligada à linha sucessória.

Toda a imprensa nacional aguardava o desfecho com ansiedade. O dia foi tomado por especulações. Não se falava em outra coisa no Brasil.

Dentro da sala prevaleceu um clima de unidade e preocupação com o destino do país. A primeira decisão foi tomada por aclamação. Decidiram marchar unidos com os seus 132 votos. Considerando a divisão dos votos entre o bloco do governo e a chapa da oposição liberal, ficou claro o papel decisivo da esquerda.

Lula, o primeiro a falar após a decisão histórica, defendeu o lançamento de um pré-candidato, sem o compromisso de ir até o final. Um candidato que cumprisse o objetivo de preservar ao máximo a democracia e as conquistas sociais.

O ex-presidente defendeu que o escolhido deveria ser aquele com maior capacidade de unir o campo, independentemente do partido. Um parlamentar combativo e amplo, com identidade e excelente jogo de cintura.

Preocupado com a mensagem do encontro para a população, Ciro pediu a palavra. O ex-ministro iluminou a reunião ao propor uma pauta que dialogasse com a sociedade, recheada de compromissos públicos que deveriam ser assumidos pelo candidato do bloco ou pelo candidato que o grupo decidisse apoiar.

Luciana Santos defendeu incluir na agenda a garantia pelo Congresso Nacional de recursos orçamentários para que todos os brasileiros tenham acesso à vacina contra a Covid-19 em 2021.

Carlos Siqueira propôs a prorrogação do auxílio emergencial, explanando sobre o drama vivido pelos brasileiros vítimas do desemprego galopante.

Juliano Medeiros, citando o horror vivido pela população do Amapá, defendeu a inclusão do compromisso de que o candidato não paute a privatização do sistema elétrico.

Com uma pauta unitária aprovada, um rumo político definido e um pré-candidato aclamado, o final da reunião foi triunfante. Saíram todos de mãos dadas levantadas, cantando o hino nacional e marchando até o Salão Verde.

A cena me arrepiou tanto que acabei acordando. As madrugadas de Brasília andam frias. Puxei a colcha e voltei a dormir.

*Ricardo Cappelli é secretário da representação do governo do Maranhão em Brasília e foi presidente da União Nacional dos Estudantes.

**Este artigo não refletenecessariamente, a opinião da Revista Fórum.