Por Thabata Ganga*
O programa WiFi Livre SP, iniciado em 2014, teve seu 120° ponto instalado em 2015 e de lá para cá não houve expansão significativa. Na realidade, a gestão Dória/Covas fez uma grande gambiarra e utiliza UBSs, telecentros, CEUs e outras localidades que já possuem internet para inflarem os números reais do atual WiFi Livre SP. Isso não passa de desonestidade intelectual, mascaramento dos dados e falta de investimento no programa, que é essencial para uma cidade inteligente, moderna e conectada.
É muito importante haver pontos de acesso a WiFi gratuito pela cidade, pois é possível conectar diversos equipamentos públicos através deles, como câmeras de segurança e sistemas de saúde, além de garantir acesso às pessoas em qualquer lugar da cidade para estudo, trabalho e outras atividades. O acesso à internet é um medidor importante de desigualdade, pois esse acesso pode ajudar no desenvolvimento social, profissional, econômico, pessoal e cultural, além de atuar no combate da desigualdade de oportunidades.
Seul, por exemplo, em 2015 já havia instalado mais de 10 mil pontos de acesso. Tel Aviv e Jaffa em Israel já têm todos os cidadãos conectados em WiFi livres. Essas devem ser nossas referências nesse assunto. Esse é o ideal e é nessas cidades que devemos nos espelhar.
A Prefeitura de São Paulo prometeu uma expansão de mais de 600 unidades até 2020, e essas unidades estão fazendo falta para a nossa sociedade. Principalmente agora, durante a pandemia, quando pequenos comércios não têm acesso à internet para fazer seus negócios, e nossas crianças e jovens têm sua educação prejudicada, não participando das aulas online por falta de meios de conexão.
Após quatro anos se gabando de parcerias público-privadas – as famosas PPPs –, a atual gestão não implementou novos pontos de acordo com o mapa do WiFi Livre SP. A estagnação do programa, junto com a “velocidade” ofertada de 512 kbps, demonstram uma total falta de vontade da prefeitura na modernização e na ampliação da rede, além de o alcance atual não atingir quem mais precisa.
Essas redes não estão nos bairros de uma forma que as pessoas consigam alcançá-las de suas residências para que possam estudar, para que os microempreendedores consigam desenvolver seus negócios e gerar emprego e renda.
Os telecentros estão fechados. São 130 no total que já possuíam internet, necessitando apenas de um roteador para oferecer WiFi para os usuários. Ou seja, esses telecentros estão sendo utilizados para inflar os números sem uma real ampliação do programa WiFi Livre SP. Em geral, eles são usados apenas para fazer currículos, sem ofertarem de forma sistêmica cursos presenciais ou online que poderiam ser feitos através de repositório da prefeitura ou até mesmo com parceria com sites que oferecem cursos online.
Assim como foi feito nos telecentros, as UBS também estão sendo utilizadas dessa forma, mas fica a pergunta: alguém iria até uma UBS apenas para utilizar o WiFi? Principalmente agora, durante a pandemia? Alguém que não tem acesso à internet iria até uma UBS para fazer um curso, assistir a aulas online, resolver alguma coisa do seu microempreendimento?
A CUFA (Central Única das Favelas) está fazendo um programa que realmente vai resolver esses problemas de fato, papel que é da prefeitura, mas que não está sendo desempenhado atualmente. A organização vai levar internet a cerca de 2 milhões de pessoas das periferias, principalmente mulheres empreendedoras, para que elas consigam vender online seus produtos e tenham uma redução no custo da sua produção.
Nós defendemos que os pontos de WiFi Livres podem gerar desenvolvimento e um combate efetivo contra a desigualdade socioeconômica, educacional e de desenvolvimento profissional. Pode ajudar na aproximação dos empregos para a residência das pessoas, fomentando negócios locais e gerando emprego e renda nessas localidades. Defendemos também a modernização e a qualidade, não só a ampliação da rede. É preciso oferecer uma velocidade de internet minimamente razoável para que as pessoas consigam assistir a aulas, fazer cursos e trabalhar, o que hoje não é possível com uma velocidade menor do que 1 Mbps – a nossa proposta é oferecer pelo menos o dobro dessa velocidade no curto prazo.
Nossa cidade é a locomotiva do Brasil. Nossa bandeira diz que “São Paulo não é conduzida, ela conduz”. Sem a principal ferramenta do século XXI, que é a internet, nós iremos conduzir São Paulo para onde?
* Thabata Ganga é engenheira biomédica, candidata a vereadora pelo PDT em São Paulo e criadora da rede Brasil Contra o Vírus, que fabricou milhares de EPIs em 3D para hospitais públicos no começo da pandemia (https://brcontraovirus.org)
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum