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Por Marcos Cesar Danhoni Neves*
Já escrevi um artigo sobre esta lúgubre e patética figura chamada Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub, porém, como todo pesadelo recorrente, é necessário voltar ao personagem para compreender a gênese de toda sua brutalidade.
Ao vê-lo num tosco vídeo rodando um guarda-chuva aberto ao som de “Singing in the rain”, e com a voz sempre impostada num falsete grave-reverso (supondo que isso possa existir) para justificar a “metáfora” com um estrondoso “está chovendo fake news”, demonstra um grau de non sense jamais visto num Ministro da Educação. Soa ainda mais falso porque Weintraub é um dos grandes produtores de fake news na podridão do universo bolsonarista. Além da triste performance dançarina-musical, o DesMinistro prossegue com suas ameaças contra a educação e os manifestantes de 15 e 30 de Maio estimulando a delação de professores “manipuladores”. Seus planos para a educação brasileira consistem na formação de alcaguetes, X-9, em larga escala numa brutal robotização do alunado à la “The Wall”!
Após este show de horrores circense é necessário entender o “porquê” disso. As razões devem ser buscadas em fontes confiáveis e uma destas fontes é o currículo Lattes do DesMinistro. Em seu currículo, o fato que mais aparece é a extremíssima pobreza de sua vida acadêmica: somente quatro artigos em periódicos de baixa qualidade editorial (B4, segundo o conceito do ranking Qualis da CAPES). Destes quatro artigos, um é plágio do outro, de mesmo título, mas traduzido para o inglês.
Este autoplágio apresentado em duas revistas diferentes (“Revista Brasileira de Previdência” e “Revista Chilena de Derecho del Trabajo y de la Seguridad Social”) tem como título “A Bela Adormecida: 20 anos depois do processo inflacionário” (e no autoplágio em inglês: “Sleeping Beauty: 20 years later, inflation process is about to rise again”; com subtítulo fora do padrão da língua culta inglesa, que deveria ser: “20 years after the inflationary process”). Em outros artigos, mas publicados no jornal “Valor Econômico” entre 2007 e 2010, ele volta à carga em seu universo infantilizado, com títulos “engraçadinhos”: “2025: o apogeu brasileiro. 2025: o apogeu brasileiro”, “Assim Falou Zaratustra: A Inflação está Morta” e “O incrível milagre brasileiro do paralelepípedo voador”. O uso de metáforas e da ironia é um poderoso recurso retórico e didático. No entanto, seu abuso, acaba demonstrando as falácias argumentativas de quem o produziu. Um caso raríssimo do bom uso de metáforas e ironias era o do falecido jornalista Joelmir Beting. Mas Weintraub está a centenas de milhões de anos-luz da verve empolgante e envolvente de Beting.
Não bastassem as gracinhas de pseudoerudição, infantilismo e sua total falta de vocação para a comédia, em 2012, ele prova novamente escrever um artigo (em português, mas que o apresenta na Revista com um título em inglês) intitulado: “The Good, the Bad and the Ugly: Mutual Funds and Private Pension Funds industry, who gets the Lion’s Share: Government, Asset Managers or Clients? (“O Bom, o Mau e o Feio: Fundos Mútuos e Fundos de Previdência Privada que obtêm a participação do Leão: Governo, Gerentes de Ativos ou Clientes?”). Novamente vemos o uso do recurso irônico: “O Bom, o Mau e o Feio”, título de um famoso faroeste spaghetti-italiano e a palavra “Leão”, referindo-se à cobrança de Imposto de Renda (mas sem sentido quando traduzido para o inglês).
Além de toda sua pobreza acadêmica, expressa num currículo que tem a dimensão de uma única folha de sulfite, Weintraub, tentando quase se desculpar e buscando afirmar-se como um “bom professor”, escreve o seguinte:
“Uma de minhas maiores satisfações pessoais foi a boa receptividade dos alunos quanto ao método e a abordagem de ensino que adoto. Após lecionar (Microeconomia) apenas três semestres na Unifesp, quando ofereci a matéria sobre Mercado Financeiro, mais de 10% dos alunos (Ciências Contábeis, Atuariais, Administração, Economia e R.I.) de todo o campus de Osasco tentou se matricular. As vagas foram ampliadas para 180, mesmo assim, não foi possível atender toda a demanda.”Este parágrafo exposto na seção do currículo Lattes intitulada “Outras informações relevantes” é totalmente fora do padrão e fortemente apelativo. Demonstra a busca de uma espécie de “tábua de salvação” diante de um “oceano curricular” tão miserável. Devemos lembrar ainda que Weintraub revelou na Comissão de Educação da Câmara que sofreu um processo na Unifesp. O processo se deu porque ele tinha uma fonte de renda fora da Universidade, o que é proibido para professores que foram contratados sob regime de Tempo Integral e Dedicação Exclusiva! Portanto, incorreu num crime grave! Este é um ministro que, além de ser comprovadamente burro (trocar 3% por 30%, não usar corretamente o verbo “haver”, levar 30 bombons-metafóricos ao invés dos 100 que ele falara, de confundir Kafka com kafta), é extremamente maldoso e cruel: tenta impor o projeto neonazista da “Escola Sem Partido” (na verdade, “Escola Com PSL”) à força e apelando a alcaguetes e X-9 de toda ordem nas escolas. Tentando intimidar nós professores, o DesMinistro conseguirá o seu contrário: todos nós nos declararemos “opositores de consciência” e marcharemos contra sua Insensatez e banalização do Mal. A desobediência civil nas escolas e universidades de todo o país crescerá exponencialmente e sufocará o fascista Weintraub e sua nau de insensatos. Mais que entoar os belos acordes do “Singing in the rain” no clássico filme hollywoodiano “Cantando na Chuva” (1952), com Don Lockwood, Weintraub notabiliza-se pelo seu exato oposto mas revelador: “Singing in the shit”, cantando na merda em que ele transformou a educação pública brasileira! Porém, e para dizê-lo em “bom” inglês: “It came from the shit and for shit it will return”! Amém”!!! *Marcos Cesar Danhoni Neves é professor titular da Universidade Estadual de Maringá, autor do Livro “Conhecimento Público”, entre outras obras