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Por Juliana Cardoso*
As gigantescas manifestações desta quarta-feira (15), que levaram às ruas mais de 2 milhões de pessoas em 250 cidades do Brasil, em sua esmagadora maioria estudantes e professores universitários contra os cortes na educação, assumem um significado neste momento: a destruição de conquistas históricas não vai passar em brancas nuvens. Depois de chamar de balbúrdia a produção de ensino, pesquisa e extensão de universidades como UFBA, UnB e UFF, Bolsonaro ampliou seus desafetos.
Da cidade de Dallas, nos EUA, onde se encontrava na quarta, Bolsonaro disparou impropérios típicos da campanha eleitoral. Chamou os manifestantes de “idiotas úteis e imbecis usados como massa de manobra” de um núcleo de esquerdistas que dominam as universidades federais. Com isso, forneceu combustível para ampliar os protestos, que tiveram a adesão também de universidades particulares, relembrando os movimentos estudantis das décadas de 60 e 70.
Enquanto isso, convocado pelo Congresso Nacional, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, aquele que comeu Kafta, mas não leu Kafka, tentava explicar a diferença entre contingenciamento de verba e cortes orçamentários. Dos 30% anunciados anteriormente, procurou convencer parlamentares que o contingenciamento para as universidades federais é de apenas 3,4%. Em seu esforço, culpou governos anteriores pela situação e recorreu às firulas semânticas. Contingenciamento, como política econômica, se refere a uma intervenção governamental para estabelecer limites à produção, comercialização interna e importação ou exportação de determinado produto. Entretanto, este limite não deve ser definitivo.
Mas, no mundo de Bolsonaro e Weintraub, que consideram “balbúrdia” o que algumas das mais importantes universidades do país fazem, contingenciamento e corte se referem à mesma coisa: apesar de afirmar que não está cortando verba das universidades, o governo não tem previsão de ressarci-las, ou seja, chamar de contingenciamento é coisa de quem não estudou. No mundo do lado daqui, da vida real, o correto é chamar de corte.
A realidade é que hoje vivemos um clima de balbúrdia governamental. Num dia, o presidente reunido com líderes de partidos determina por telefone ao ministro da Educação a suspensão dos cortes. Ato contínuo, confirma que os cortes serão mantidos e desmoraliza a própria base. Ou seja, temos um governo que chama corte de contingenciamento e que confunde a pesquisa científica com as com suas trapalhadas: corte é corte, contingenciamento é contingenciamento, pesquisa é pesquisa e balbúrdia... é esse governo.
Entre os núcleos que se engalfinham pelo poder no governo Bolsonaro, o time dos teleguiados pelo autoproclamado “filósofo” Olavo de Carvalho é absolutamente ressentido. Nunca aceito pelo mundo acadêmico por conta de suas limitações intelectuais, Olavo encontra respaldo também no time dos evangélicos, que quer a todo custo exterminar o “marxismo cultural” das universidades brasileiras.
Mas voltando ao Planeta Terra, que não é plano, a expectativa é que o “Dia D da Educação” se transforme em dias de novas lutas. Lutas sem trégua contra todos os desmandos desse governo autoritário. Que da disputa central, que é a educação, possa fluir energia para todas as forças progressistas e democráticas por um Brasil com respeito aos direitos sociais e, sobretudo, soberano.
*Juliana Cardoso (PT) é vereadora, vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente e membro das Comissões de Saúde e de Direitos Humanos da Câmara Municipal de São Paulo