O segundo turno da intensa corrida presidencial na Argentina será disputado neste domingo (19) e, diferentemente da primeira volta, cujo resultado surpreendeu com o peronista Sergio Massa somando 36,68% dos votos, superando o extremista de direita e ultraliberal Javier Milei, que teve 29,98%, o desenlace final deve ser apertado - e não é possível afirmar quem sairá vencedor.
É o que aponta levantamento exclusivo do DataFórum, que analisou 7.638 postagens sobre as eleições do Facebook e Instagram na Argentina entre os dias 9 e 16 de novembro.
O estudo mostra como as plataformas digitais desempenham um papel crucial na formação da opinião pública e revela um engajamento massivo em torno dos candidatos, com mais de 4,2 milhões de reações e mais de 1 milhão de comentários.
Esse grande volume de interações nas publicações sobre o assunto apontam para uma divisão clara que coloca Massa e Milei emparelhados em menções positivas. O peronista soma, do total de postagens analisadas, 25,79% de citações com tom positivo, enquanto o ultraliberal apresenta índice ligeiramente maior, de 26.03%.
Chama a atenção a quantidade de publicações e comentários neutros relacionadas às eleições: 48,18%. O estudo permite afirmar que este dado pode ser favorável a Sergio Massa, que parece ter leve vantagem na atração de eleitores indecisos.
Publicações de maior engajamento
O equilíbrio no apoio a Massa e Milei pode ser observado através do cômputo das publicações no Instagram e Facebook da Argentina que geraram maior engajamento no período analisado.
A postagem de maior repercussão é do site Infobae no Instagram, cujo título, em tradução para o português, é: “Se você fosse Pinóquio já teria machucado meu olho”. Trata-se de uma fala de Milei a Massa durante o debate presidencial realizado no último domingo (12). Foram registrados, na publicação, 57.726 “likes”, 4.238 comentários e 61.964 reações - ou seja, reações positivas à declaração do ultraliberal.
A segunda publicação de maior alcance foi feita pelo site progressista Página 12, com o seguinte título, na tradução para o português: “Milei não. A poucos dias para as eleições que definirão o próximo presidente, os posicionamentos do mundo da cultura são cada vez maiores”. Foram 47.414 “likes”, 4.712 comentários e 52.126 reações. Trata-se de uma postagem essencialmente pró-Massa.
Massa: qualidade como economista e apoio da cultura pop
A maior parte das mensagens e menções favoráveis a Sergio Massa nas redes sociais destaca as qualidades do peronista como economista e político. Suas propostas econômicas, especialmente relacionadas à inovação tecnológica, recebem elogios A desenvoltura do candidato em debates e eventos públicos também ganham destaque e o colocam, nas interações, como uma liderança política capaz de trazer estabilidade e progresso para a Argentina.
Além disso, Massa tem vantagem com adesões recentes de autoridades de rede relevantes, como a liga de futebol e fãs de cultura pop, como K-pop e Taylor Swift, que estão rechaçando Milei. Este impacto nas plataformas digitais, inclusive na juventude, é pouco previsível e pode garantir a diferença na reta final. Sua campanha com tom emotivo tem potencial para atrair um público determinante, de última hora.
É possível perceber também a presença de movimentos populares de base aderindo à campanha peronista, que não representam, necessariamente, uma força como influenciadores digitais, entretanto compõem redes reais, de pessoas que se conhecem e que se relacionam, inclusive pelo Whatsapp. Este tipo de arranque na reta final não é desprezível, pois pode acontecer de maneira invisível, mas eficaz.
Milei: juventude e ruptura
Apesar do cenário desfavorável nas redes mais tradicionais, Milei capitaliza fortemente em plataformas como WhatsApp e TikTok para alcançar um público jovem. Sua comunicação, embora contestada, ganha aderência entre este segmento, alimentando crenças falsas sobre a dolarização e seu impacto nas finanças pessoais - como a tese fraudulenta de que a remuneração de uma pessoa que ganha 10 mil pesos se transformará em 10 mil dólares.
A militância jovem fervorosa e pouco conhecida é um trunfo para Milei, com potencial para influenciar significativamente os resultados finais, especialmente se Massa falhar em se comunicar efetivamente nessas plataformas.
A base de apoio do ultraliberal valoriza sua posição como um outsider e a promessa de reformas radicais, especialmente no campo econômico.
Observa-se, ainda, uma forte ênfase na mudança e na ruptura com o status quo político. Os apoiadores de Milei, segundo a análise, valorizam seu posicionamento como um outsider. Há também menções de seu compromisso com a liberdade e contra a corrupção - elementos que marcaram, por exemplo, as campanhas eleitorais de Jair Bolsonaro no Brasil.
Brasil, Lula e Bolsonaro
A presença de "Brasil", "Lula" e "Bolsonaro" nas interações das redes sociais argentinas revela a influência do último debate eleitoral, ocasião em que os temas em questão foram citados.
No entanto, as menções a Lula (74 postagens) superam as referências a Bolsonaro (16 postagens), indicando uma associação mais intensa entre Massa e Lula, enquanto Milei é frequentemente comparado ao ex-presidente brasileiro.
A polarização se manifesta na propagação de imagens negativas associadas a Lula como “comunista” e defensor de “ditadores de esquerda”, enquanto Bolsonaro e Milei são vinculados ao fascismo, retratando ambos como figuras descontroladas.
Há mensagens de ambos os lados propagando o medo da vitória do campo oposto, utilizando Lula e Bolsonaro como espantalhos reversos.