Na manhã do dia 19 de junho de 1898, Affonso Segreto, um cineasta italiano que acabava de chegar de Nova York de navio, prestes a desembarcar no Rio de Janeiro, sacou sua Lumière — a câmara inventada pelos irmãos Auguste e Louis Lumière pouco tempo antes — e começou a "gravar" a Baía de Guanabara.
"Chegou ontem de Paris o Sr. Affonso Segreto, irmão do proprietário do salão Paris no Rio, Sr. Gaetano Segreto", diria uma notícia publicada na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro em 20 de junho daquele ano.
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Créditos: Wikimedia Commons
"O Sr. Affonso Segreto há sete meses que fora buscar o aparelho fotográfico para preparo de vistas destinadas ao cinematógrafo, e agora volta habilitado a montar aqui uma verdadeira novidade, que é a exibição de vistas movimentadas do Brasil. Já ao entrar à barra, fotografou ele as fortalezas e navios de guerra. Teremos para dentro em pouco verdadeiras surpresas."
Segreto produziu, em sua chegada ao Rio de Janeiro, aquele que passaria a ser conhecido como o primeiro filme brasileiro — isto é, as primeiras imagens gravadas do Brasil. Ele mostrava, atracados na Guanabara, os navios de guerra brasileiros, após retornar de uma viagem aos Estados Unidos para adquirir as últimas novidades em equipamentos de fotografia.
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No dia seguinte à sua chegada, 20 de junho de 1898, Segreto deveria exibir as imagens numa sessão no Salão de Novidades Paris, a primeira sala de cinema fixa do Brasil, montada por seu irmão, Gaetano, na Rua do Ouvidor, no Rio.
Mas as coisas não correram como o esperado: antes de ser capaz de exibir suas gravações da baía, Segreto abriu sua Lumière abruptamente e danificou o filme em que havia registrado as imagens do litoral carioca.
Créditos: divulgação
À exposição do Salão Paris deveriam comparecer nomes importantes da elite brasileira, inclusive o então presidente da República, Prudente de Morais, e Rui Barbosa, à época jurista renomado.
O primeiro filme do Brasil, portanto, não existiu, nem chegou a ser exibido — ou melhor, foi gravado e depois desapareceu por um erro inexperiente de um dos primeiros cineastas. A exibição, no entanto, não foi cancelada; Affonso acabou usando outros filmes que já havia gravado, com cenas de outros lugares, em sua maioria na Europa, e a apresentação prosseguiu com curta-metragens de um minuto.
Mas Affonso não desistiu de filmar o Brasil. Entre 1898, ano em que voltou de Nova York, e 1903, registrou mais de 100 filmes com cenas propriamente brasileiras — como a visita do presidente Prudente de Morais ao cruzador da Marinha Brasileira, Benjamin Constant. Mesmo tendo falhado na primeira tentativa, Segreto ainda ganhou uma data em homenagem ao pioneirismo de sua gravação no Brasil: 19 de junho passou a ser, no Brasil, a data comemorativa do Cinema Nacional.
Já o primeiro longa-metragem brasileiro — uma história de ficção gravada no Brasil — é de 1908. Com produção de Antônio Leal, o longa "Os Estranguladores" tinha apenas 40 minutos de duração e contava a história de um crime ocorrido no país dois anos antes.
Créditos: Empresa de Labanca/ divulgação
Um assassinato na praia e um roubo que culminou em assassinato numa joalheria eram encenados e investigados no filme, que terminava com os autores dos crimes na cadeia. Por ser baseado em um caso real, o filme recebeu protestos das famílias das vítimas, mas acabou sendo exibido para mais de 20 mil pessoas só no primeiro mês em que estreou nas primeiras salas de cinema do Brasil.