A escritora Ana Maria Gonçalves, natural de Minas Gerais e autora de Um Defeito de Cor, está entre os nomes cogitados para ocupar a cadeira deixada por Evanildo Bechara na Academia Brasileira de Letras (ABL). Bechara, um dos maiores nomes da filologia no país, faleceu na última quinta-feira (22), aos 97 anos, encerrando uma trajetória fundamental para os estudos linguísticos no Brasil.
Aos 54 anos, Gonçalves tem seu trabalho marcado por um mergulho profundo nas raízes afro-brasileiras, com narrativas que abordam o racismo estrutural e a herança da escravidão. Um Defeito de Cor, lançado em 2006, acompanha a história de Kehinde, mulher africana escravizada que, após conquistar sua liberdade, retorna ao Brasil em busca do filho. A força e a complexidade da personagem ecoaram nas avenidas do carnaval de 2024, quando a escola de samba Portela apresentou um desfile inspirado na obra, provocando um novo interesse do público pelo livro, que rapidamente se esgotou em várias livrarias.
A menção ao nome de Ana Maria Gonçalves para integrar a ABL sinaliza um possível movimento de renovação dentro da instituição, que há muito tempo é criticada pela falta de diversidade em sua composição, mas que aos poucos está se adaptando aos tempos. A presença de uma autora negra, com obra centrada em temas historicamente invisibilizados pela elite intelectual brasileira, representaria uma guinada significativa no perfil da Casa de Machado de Assis.
Ainda não há data definida para a eleição que preencherá a vaga de Bechara, mas a circulação do nome de Gonçalves nos bastidores da ABL indica que o debate sobre representatividade e pluralidade na literatura brasileira chegou, enfim, ao centro da mais tradicional das instituições culturais do país.