ENTREVISTA

Cancelamento de shows foi "fruto de milícias digitais", afirma Nasi, do Ira!

Ao Fórum Onze e Meia, vocalista falou sobre apresentações canceladas após posicionamento político em show

Vocalista Nasi, do Ira!.Créditos: Fabio Giannelli/Wikimedia Commons
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O Fórum Onze e Meia desta segunda-feira (14) recebeu o vocalista da banda Ira!, Nasi, para comentar o show, realizado em Contagem, Minas Gerais, no dia 29 de março, quando o cantor apoiou grande parte de seu público que gritou "sem anistia" e reafirmou sua postura contra a extrema direita e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)

Após sua declaração, quatro shows da banda foram cancelados em Jaraguá do Sul e Blumenau, em Santa Catarina, e em Caxias do Sul e Pelotas, no Rio Grande do Sul, pela mesma produtora, a 3LM Entretenimento. Para o músico, esses cancelamentos foram muito "pontuais" e não representam os fãs da banda na região Sul do país. "Isso foi fruto de milícias digitais", afirmou. 

Nasi explicou que a banda chegou a retirar do site a agenda de apresentações, pois a empresa contratante que cancelou os quatro shows da banda de rock argumentou que chegou a receber mensagens de diversas partes do país com pessoas afirmando que não iriam ao show. "Então, é terrorismo mesmo. Hoje em dia o terrorismo tem essa faceta", declarou. 

O vocalista afirmou, também, que a banda irá "sair maior" desse episódio e disse que lamenta que a situação tenha tomado uma maior dimensão, pois para ele foi uma coisa "bem localizada" e "aleatória". "Eu não sou um cara, nem o Ira! é uma banda palestrinha, sacou?", disse, afirmando que não fica "tentando doutrinar" seu público. 

Nasi ainda destacou que lamenta se alguém de linha conservadora ou de direita tenha se sentido ofendido, pois sua postura contrária e sua declaração não se referiram a essas pessoas, mas a reacionários e a extrema direita. 

O vocalista também esclareceu que na noite do show não houve nenhum tumulto. "Aquilo foi um recorte de um momento em que eu apoiei a maior parte do público que se manifestou de livre e espontânea vontade - não estava isso no contexto do show - contra a anistia. Depois, tomaram uma vaia de meia dúzia lá no fundo. Eu resolvi me solidarizar demonstrando minha opinião em nome da banda", explicou Nasi. 

Ele ainda contou que, depois, ficou cerca de uma hora e meia atendendo aos fãs e se alguém quisesse ter reclamado, ele teria conversado com a pessoa. "Sou um cara de diálogo, entendeu?", disse. 

Para ele, a situação tomou uma proporção maior porque aconteceu logo na semana onde o debate da anistia estava mais aflorado. O projeto havia acabado de conseguir as assinaturas para tramitar na Câmara dos Deputados e os bolsonaristas estavam fazendo pressão contra o presidente da Casa, Hugo Motta. 

"Era a semana onde o Partido Liberal estava fazendo uma pressão muito grande no Congresso para 'enfiar goela abaixo' essa pauta, sendo que o Brasil tem tantas coisas importantes, no momento dos mais conturbados da história do mundo, principalmente na economia. O Brasil tem pautas importantes para sua população, inflação, segurança pública, a questão do tarifaço, a questão do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, tanta coisa que tem que ser passada com urgência", afirmou Nasi.

Ele acrescentou que, por isso, acha a pauta uma "afronta ao país" e foi isso que "despertou a ira". Nasi voltou a destacar que não faz distinção entre esquerda e direita em relação ao seu público, contanto que a pessoa tenha uma visão democrática do país.

"A democracia segue"

"Democraticamente o público pediu sem anistia. Uma outra pequena parte vaiou porque é favor da anistia. E eu me posicionei, entendeu? E assim a democracia segue. Não houve tumulto, não houve briga. Agora, o que aconteceu no Sul foi uma coisa muito desse cancelamento, foi uma coisa muito localizada", afirmou Nasi. 

O vocalista ainda disse que se surpreendeu, pois foi "didático" em sua declaração. Ele afirmou, porém, que talvez tenha "escorregado" devido à sua adrenalina, mas que não expulsou ninguém, tanto que nenhuma pessoa foi embora após sua fala. 

"Só que talvez faltou, na minha adrenalina, explicar que meu público tem que me representar, seja ele de esquerda ou de direita, ele tem que ser democrático, entendeu? Democrático no sentido das suas convicções sobre o que e como ele enxerga a realidade nacional", defendeu. 

"Eu só tentei me colocar como artista, porque o artista não é só a música que ele toca, o artista é o que ele pensa, é o que ele representa, é como ele atua", completou Nasi. 

Confira a entrevista completa do vocalista Nasi ao Fórum Onze e Meia 

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